O Ano do Pensamento Mágico - Joan Didion

Quando perdemos alguém que amamos, surge um vazio enorme dentro da gente, no entanto, não reservamos nenhum momento do nosso tempo para pensar sobre isso. Não existe uma parte de nós que está preparada para algo assim acontecer, na verdade, até evitamos pensar sobre o assunto. Nenhum pouco diferente de nós, Joan Didion também não imaginava que a sua vida mudaria em tão pouco tempo e que a dor da perda seria tão sufocante, entretanto, ela conseguiu encontrar forças para escrever esse livro, no qual ela narra sobre os 365 dias em que ela tentou lidar com o luto.


Título Original: The Year of Magical Thinking
Autora: Joan Didion
Tradução: Marina Vargas
Gênero: Não-Ficção
Editora: HarperCollins
Páginas: 240 p.
Ano de Publicação: 2021

Após terem visitado sua única filha, Quintana, internada depois de sofrer de pneumonia seguida por um choque séptico, Joan Didion e seu marido, o escritor e diretor John Gregory Dunne, sentam-se para jantar. A noite é interrompida quando John sofre um ataque cardíaco fulminante, colocando fim na parceria de quarenta anos com Didion. Dois meses depois, Quintana se recupera - apenas para sofrer um colapso no aeroporto de Los Angeles e passar por seis horas de cirurgia para remover um hematoma cerebral.


Não existe uma fórmula mágica do que fazer quando perdemos alguém que amamos. E nesse livro, Joan explora uma experiência pessoal - mas que todos nós sabemos qual é: o luto. A morte, muitas vezes, acontece de forma abrupta, e é sobre essa ruptura brusca que Didion nos fala. Os bons e os maus momentos de um casamento e da maternidade que, de repente, foram interrompidos sem que houvesse tempo para se preparar ou se resguardar.
John e eu fomos casados por quarenta anos. Durante todo esse tempo, [...] ambos trabalhávamos em casa. Passávamos 24 horas por dia juntos [...]. Eu não seria capaz de contar quantas vezes em um dia normal acontecia algo que eu precisava contar a ele. Esse impulso não cessou com sua morte. O que cessou foi a possibilidade de resposta.
Sem rodeios, Didion nos apresenta a sua perda: após visitar a filha internada, seu marido sofre um infarto fulminante, morrendo diante de seus olhos. Para tornar tudo ainda mais dramático, 2-3 meses depois, a sua única filha, Quitana, sofre um colapso e volta a ser internada às pressas. Após uma cirurgia de emergência, Quintana acaba por falecer e, a partir daí, temos o contexto da narrativa de Didion. Como alguém pode estar preparado para lidar com a morte do seu companheiro de 40 anos de casamento e de sua única filha em tão pouco tempo?


O Ano do Pensamento Mágico é o reflexo das tentativas de Joan de evitar pensar na dor e na ausência dos seus. Ao imaginar as situações futuras e ao tentar esquecer que seu marido e sua filha morreram, ela tenta aplicar o poder do pensamento mágico. Sendo assim, ela se debruça sobre o tema do luto, propriamente dito, lendo e estudando outros autores que também escreveram sobre suas perdas. O livro surge, então, como uma válvula de escape para Joan, que aos 69 anos, tinha perdido toda a sua família. Além disso, Didion percebeu que não havia muitos registros biográficos sobre o luto, fazendo com que esse fosse um dos principais motivos para publicar o seu livro.
O sofrimento pela perda acaba por se revelar um lugar que nenhum de nós conhece até chegar lá. [...] Tampouco podemos saber antes do acontecimento em si (e eis aqui o cerne da diferença entre o sofrimento como o imaginamos e o sofrimentos como ele é) a ausência infindável que se segue, o vazio [...].
Joan Didion faleceu em 2021, aos 87 anos. Além de O Ano do Pensamento Mágico, ela também publicou Noites Azuis (continuação de O Ano do Pensamento Mágico) no qual ela fala sobre saudade e solidão. Nesse segundo livro, Didion reavalia o passado, a fim de descobrir a possibilidade de planejar um futuro para ela mesma, agora, sozinha. Embora o tempo passe, para Joan, certas dores nunca desaparecem, pois são inabaláveis e persistentes, afinal de contas, não existe um prazo de validade para superar uma grande perda. Faz sete anos que eu perdi meu avô materno e ainda é uma dor inconsolável, é impossível não ler esse livro e não imaginar ou sentir o que a autora descreve. A dor da perda é universal e todos deveriam ler esse livro em algum momento da vida. Recomendo.

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

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