Diante da Dor dos Outros - Susan Sontag

Imagens de dor e de sofrimento são apresentadas diariamente nos meios de comunicação. Pior, somos bombardeados o tempo todo por imagens desse tipo e por notícias também. O que levanta alguns questionamentos, até que ponto estamos apenas assistindo à dor do outro ou sentindo empatia e/ou compaixão? No livro Diante da dor dos outros, Sontag discute como a imagem captura o sofrimento e como isso repercute nas pessoas.


Título Original: Regarding the Pain of Others
Autora: Susan Sontag
Tradução: Rubens Figueiredo
Gênero: Ensaio
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 112 p.
Ano de Publicação: 2003

Imagens de desgraça se tornaram comuns graças à televisão e ao computador, fazendo com que a dor do outro gere entretenimento ao invés de empatia e/ou compaixão. Somos bombardeados com notícias e imagens de sofrimento e de guerras e de desastres, no entanto, o que tudo isso provoca em nós exatamente? De que maneira observar a crueldade pode nos influenciar? Até que ponto nossa humanidade deixa de existir diante de tanto horror? Em Diante da dor dos outros, Susan Sontag faz uma profunda reflexão sobre as relações entre notícia, arte e compreensão na representação dos horrores da guerra, da dor e da catástrofe, discutindo os argumentos sobre de que maneira essas imagens podem inspirar discórdia, fomentar violência e criar apatia.


Em seu livro, Sontag discute acerca das diversas formas de interpretação e de reações diante da fotografia jornalística, especificamente, da fotografia de guerra. A autora analisa a utilização da fotografia como um subterfúgio para chocar, impactar, chamar a atenção das pessoas, como uma espécie de sensacionalismo. Para isso, Susan cita inúmeras situações de guerra ao longo dos anos, enfatizando de que modo a fotografia, como principal ferramenta de registro, foi utilizada para apresentar os cenários horrendos dos conflitos nos campos de batalha. Mas os cenários registrados por fotógrafos de guerra, que percorriam o mundo todo atrás de um furo, eram realmente fidedignos à realidade do conflito?
"Fotos de corpos mutilados podem certamente ser usadas, como faz Woolf, para dar ânimo à condenação da guerra e podem, durante algum tempo, transmitir de forma convincente uma parcela da sua realidade para aqueles que não têm nenhuma experiência de guerra. Todavia, quem admite que num mundo dividido, como se verifica hoje, a guerra pode tornar-se inevitável e até justa, pode retrucar que as fotos não oferecem provas, absolutamente nenhuma prova, em favor da renúncia à guerra".
Ao longo do seu livro, Sontag reflete acerca de se tratar a fotografia como arte e, sendo arte, qual a estética da guerra? Sob o olhar de quem e para quem os registros eram/são feitos? A autora desmascara como algumas das fotos mais famosas foram tiradas. Não era apenas o simples registro do fato, do acontecimento. Muitos fotógrafos intervinham no ambiente, modificando-o para que rendesse uma boa imagem. O cenário da destruição ganhava vida através da pose, do ângulo e da luz certos. Ou seja, Susan apresenta o questionamento de que por trás da câmera existe uma pessoa que julga de que maneira o horror e a dor deve ser apresentada.
"Se tem sangue, vira manchete", reza o antigo lema dos jornais populares e dos plantões jornalísticos de chamadas rápidas na tevê - aos quais se reage com compaixão, ou indignação, ou excitação, ou aprovação, à medida que cada desgraça se apresenta.
O livro explora e questiona a motivação por trás dos conflitos, bem como a ausência de ética nos cenários das fotografias, explorando conceitos importantes, como compaixão, moral e realidade. Além disso, a autora também discute sobre como as imagens podem servir tanto como motivação para mudanças em benefício da paz como para aumentar a violência no mundo ou a apatia. Ainda em seu texto, fica claro que o que Sontag quer enfatizar é que, independentemente do porquê dos conflitos, visto que ela não nos faz questionar que lado estaria certo, a autora expõe que em ambos os lados existe dor e sofrimento. E que é necessário ficar atento a quem manipula essas imagens, a quem elas beneficiam?
"A exibição, em fotos, de crueldades infligidas a pessoas de pele mais escura, em países exóticos, continua a promover o mesmo espetáculo, esquecida das ponderações que impedem essa exposição quando se trata de nossas próprias vítimas de violência; pois o outro, mesmo quando não se trata de um inimigo, só é visto como alguém para ser visto, e não como alguém (como nós) que também vê".
Esse livro foi publicado em 2003, mas permanece bastante atual. Somos bombardeados o tempo todo por notícias e imagens com o objetivo de causar impacto, de chamar a atenção e de chocar o expectador. Sontag reflete justamente sobre como recebemos essas imagens e o que elas causam em que as vê. Vale salientar que quanto mais somos apresentados a imagens de dor e sofrimento, ao invés de nos sensibilizarmos com elas, podemos nos tornar cada vez mais insensíveis e inertes. Ou seja, a frequência com que vemos tanto horror, acaba se tornando banal e, consequentemente, a compaixão e a empatia vão ficando em segundo plano. Outro ponto importante é que, além da apatia, pode gerar o desejo por algo ainda pior, desenvolvendo no expectador a gana por algo que seja ainda mais horrível e mais doloroso. Diante da dor dos outros faz-se, no nosso cenário atual, uma leitura importante e necessária. Recomendo. 

Nota: ⭐⭐⭐⭐


Comentários

  1. Quando vejo programas de Tv ao meio dia explorando as desgraças humanas, e sua grande audiência, vejo a "apatia e o desejo por coisa pior". =(

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    1. Infelizmente, é uma prática muito corrente na imprensa marrom... me dá raiva e nojo esse tipo de coisa.

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