O Peso do Pássaro Morto - Aline Bei

O Peso do Pássaro Morto é o primeiro livro da escritora brasileira Aline Bei. Escrito em versos, esse romance-poesia descreve, em suas 168 páginas, as dores e as perdas da protagonista, dos seus oito aos seus 52 anos. E a pergunta que fica, após a leitura, é: quanto sofrimento é possível alguém aguentar? [Pode conter spoiler]

Título Original: O Peso da Pássaro Morto

Autora: Aline Bei

Gênero: Romance

Editora: Nós

Páginas: 168 p.

Ano de Publicação: 2017

Não é fácil lidar com perdas e, nesse livro, nossa protagonista experimenta vários dissabores ao longo de sua existência. O romance é narrado pela própria protagonista em diferentes momentos da sua vida, aos oito, 17, 18, 28, 37, 48, 49, 50 e 52 anos (conforme a própria capa do livro sugere). E essas fases são delimitadas no texto por meio da linguagem, que deixa claro a idade da nossa protagonista em cada capítulo, digamos assim. Além disso, cada dor, perda e/ou sofrimento é descrito de acordo com o conhecimento que a protagonista tem sobre si mesma e sobre o mundo.

Vale ressaltar que esse livro não é uma leitura fácil, embora apresente tão poucas páginas. As perdas pelas quais a protagonista passa são reais, são palpáveis. Quando experienciei a minha primeira perda importante na vida, não soube como lidar com isso e, por diversas vezes, senti-me culpada por várias razões. Não é diferente o que acontece com nossa protagonista, aos oito anos ela recebe a notícia de que sua melhor amiga, Carla, morreu (e de uma morte bem horrorosa), por diversas vezes, nossa heroína se questiona se não foi a culpada pela morte da amiga, mas como ela seria culpada? As duas eram apenas crianças e Carla foi atacada por um cachorro.

meu grito
estava a ponto de explodir quando
a Paula me puxou pro banheiro me pedindo calma.
que nojo me dava do amor
virando posse,
das pessoas virando cruas

A partir daí, a protagonista enfrenta diversos traumas. Suas expectativas, sonhos, projetos sempre acabam sendo frustrados por elementos externos. Ela anseia por liberdade, por viver a vida ao máximo, por conhecer coisas novas, mas é apenas aos 17 anos que ela conhece uma das faces da crueldade humana. E aos 18 precisa lidar com uma nova responsabilidade, ser uma jovem mãe solo. Embora faça de tudo para criar o filho, com quem ela não consegue de nenhuma maneira se conectar, nossa protagonista sente uma grande dificuldade de se doar, de dar e de receber amor.

Isso é tudo
menos coisa de criança.
Isso
é o lugar onde nasce
a dor.
Isso é
tudo o que destrói a possibilidade de um mundo
um pouco menos cruel
com os mais fortes abusando dos
mais fracos e o pai do lucas
dentro dele
e o pai
do lucas
dentro de
mim.

Ao longo do livro, vamos acompanhando nossa protagonista envelhecendo e se fechando ainda mais em sua dor, em seu sofrimento. Não é que ela não sinta mais nada, ela sente tudo ao seu redor, mas desaprendeu a falar sobre isso, a verbalizar sua tristeza. No entanto, nem tudo é dor na vida da protagonista e ela encontra consolo em um cachorro de rua, Vento, seu fiel companheiro. A relação que é construída ao lado do cão evidencia o quanto nossa heroína ainda é capaz de amar e, talvez, ela deposite no cão o que não conseguiu dar ao filho. Obviamente, embora pareça um livro "inofensivo", O Peso do Pássaro Morto pode te causar desconforto e ativar alguns gatilhos, então, já de antemão, é preciso ter estômago e/ou uma caixinha de lenços do lado. Não é fácil ler o que acontece com a protagonista sem sentir toda a carga dolorosa que a personagem carrega. O texto é recheado de um lirismo ímpar, como só a dor pode ser descrita na literatura. Recomendo muito.

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐


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