À Flor da Pele - Hebe Coimbra

Estava fazendo uma pequena arrumação no meu quarto e encontrei alguns livros que li na minha adolescência. Resolvi reler alguns e me deparei com À Flor da Pele, de Hebe Coimbra. Dos vários livros que li durante essa época, esse foi o único que trazia uma protagonista que amava escrever, igual a mim. Os momentos de identificação foram muitos, por isso, guardo um imenso carinho por essa história.

Título Original: À Flor da Pele

Autora: Hebe Coimbra

Gênero: Infanto-Juvenil

Editora: Scipione

Páginas: 71 p.

Ano de Publicação: 1997

A história é narrada em primeira pessoa por uma adolescente que acabou de completar 13 anos. Apesar de jovem, nossa heroína narra os acontecimentos do dia a dia em seu caderno-diário, intitulado Caderno da Minha Vida. Nele, a protagonista relata os momentos vividos por ela e suas descobertas, além de compartilhar suas histórias de ficção. Cada capítulo nos traz um episódio diferente sobre um determinado relacionamento, mas no fim, entender o ser humano é muito mais difícil do que nossa heroína imaginava.

"Abri o Caderno da Minha Vida e na página que eu abri tava escrito A SUSANA E O MAURÍCIO SE SEPARARAM. Aí eu fiquei folheando e vi em letra vermelha e grandona uma porção de A SUSANA E O MAURÍCIO SE SEPARARAM e uma porção de A SUSANA E O MAURÍCIO VOLTARAM e no meio disso uma porção maior de O ANDRÉ FICOU COM. Que variava muito. O ANDRÉ FICOU COM A ANDRÉIA, A PRISCILA, A RENATA, A PAT, A LUCIANA, A PRISCILA, A BIA... e também em letra vermelha e grandona, que eu escrevia assim as coisas importantes que aconteciam, SAUDADE DO VOVÔ SAUDADE DA VOVÓ que eu escrevia quase todo domingo".

Nossa heroína não tem nome. O que faz com que ela possa ser qualquer menina de 13 anos. Quando li esse livro, ficava dividida entre saber o que iria acontecer na vida da personagem principal e saber que nova aventura a Bárbara viveria, já que Bárbara é o nome da personagem que nossa heroína usa para contar suas histórias de ficção. Esse artifício literário me deixava super envolvida com a narrativa, visto que eu me identificava com as experimentações da protagonista, já que diferentemente da maioria das garotas da minha idade, eu não pensava em outras coisas, além de estudar e escrever meus contos e romances.

Ter encontrado esse livro me deu motivação para continuar escrevendo. A protagonista se aventurava por diversos gêneros, desde suspense a terror etc. O que eu fazia bastante durante minha adolescência. O interessante do livro é que, embora nossa heroína tenha seus próprios medos e ache mais confortável viver as experiências por meio de suas histórias, em algum determinado momento ela tem que encarar a vida real e viver as suas próprias experiências na pele. Daí o nome do livro. Outro ponto interessante no livro é como a protagonista vai aprendendo sobre como as coisas funcionam, observando a experiência alheia e percebendo que nada dura para sempre, que o momento de se viver é o agora e não o depois.

"Bárbara pensa que enlouqueceu ou o filme andou para trás. As pernas de calças pretas e a mão que segura uma faca comprida e bastante pontudinha ainda estão entrando pela porta na sala. Mas Bárbara faz um grande esforço mental e entende que tudo se passava ao mesmo tempo. Entende mais. Entende que a moça que dança e corta cenouras em rodelas fininhas está vivinha da silva. Oh, não! Não acerto uma, não acerto uma, Bárbara reclama. As pernas de calças andam bem devagar e silenciosamente. Estão no meio da sala. Bárbara fica tensa. Tensa e dividida. Quer ver o seu cantor de rock preferido. Adora. Quer ver o filme policial. Adora".

Embora seja uma narrativa infanto-juvenil, À Flor da Pele traz muitas reflexões importantes para todas as idades. Claro que não podemos esquecer que é uma adolescente de 13 anos que conta a história, então tudo se passa de acordo com o ponto de vista dela. Mas isso não desmerece as questões levantadas por ela sobre o divórcio, por exemplo. Se aprendemos que o amor é para sempre, por que as pessoas se separam e deixam de se amar? Além disso, nossa heroína registra em seu caderno não só o que ela vê, mas também suas dúvidas e anseios.

Talvez seja aquele momento de nostalgia da minha parte, por encontrar um livro que fez tanta diferença para a eu de 11-12 anos, que era uma garota estranha, tímida e reservada, já que ninguém, além da minha família, sabia que eu gostava de ler e de escrever minhas próprias histórias. Quando conheci esse livro, senti-me encorajada a continuar escrevendo e a aperfeiçoar ao máximo meus escritos. No fim, acho que é sempre uma boa surpresa que a gente encontra, quando faz as famosas arrumações de fim de ano. No mais, incentivem suas crianças a continuarem lendo e escrevendo... heroínas como a de À Flor da Pele podem estar em qualquer lugar...

Nota: ⭐⭐⭐


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