O Gato por Dentro - William S. Burroughs

Quando a gente fala em William Seaward Burroughs II ou simplesmente William Burroughs (1914-1997), podemos associá-lo imediatamente a Kerouac ou diretamente à geração beat. Embora comumente enquadrado na geração beat, Burroughs se aventurou por um universo literário mais experimental, subjetivo e intrinsecamente autobiográfico. Muitos de seus textos beiram ao escatológico lexical, com grande predominância de ambientes urbanos e influenciados por suas experiências com alucinógenos. 

Título Original: The Cat Inside
Autor: William S. Burroughs
Tradução: Edmundo Barreiros
Gênero: Biografia, Memórias
Editora: L&PM
Páginas: 112 p.
Ano de Publicação: 2006

Apesar de criar uma atmosfera fantástica e/ou grotesca em suas obras, não é isso o que vemos em O Gato por Dentro. Nesse livro, publicado originalmente em 1986, Burroughs registra, numa espécie de diário, a sua relação com os gatos que ele manteve como companheiros e amigos durante seus últimos dez anos de vida, quando já tinha se mudado para a pacata Lawrence, no Kansas, EUA, onde veio a falecer em 1997.


Burroughs delineia uma viagem sentimental e nostálgica sobre o convívio entre os humanos e os felinos domésticos. Nesse percurso, ele remonta a convivência de homens e gatos desde o Antigo Egito, no qual, a perda desse animal era demasiadamente sentida por seu dono, sendo inclusive evidenciada pela remoção das sobrancelhas, numa espécie de luto pelo companheiro falecido.

"Eu postulo que os gatos começaram como companheiros psíquicos, como Familiares, e nunca se afastaram dessa função".

Como assinalado pela Harper’s Bazaar, O Gato por Dentro é "Um livro sobre como o convívio com gatos pôs Burroughs em contato com seu próprio eu." Sendo assim, ao lermos essa narrativa curta, vamos percebendo que aos poucos, Burroughs vai trazendo descrições espirituosas de suas memórias e reflexões após se tornar um "criador" de gatos, visto que a priori ele não os via como companheiros tão preciosos assim.

"Os antigos egípcios pranteavam a perda de um gato e raspavam as sobrancelhas. E por que a perda de um gato não pode ser tão tocante e sentida quanto qualquer perda? As pequenas mortes são as mais tristes, tristes como a morte de macacos".

Ao longo de suas reflexões, o autor vai relembrando todos os gatos que passaram pela sua vida, deixando evidente o que seus amigos felinos fizeram de benéfico para sua saúde mental. Além disso, Burroughs ressalta que apesar de muita gente preferir cães, gatos são esses seres chamados de "Familiares", que nos acompanham e cuidam de nós. Uma crença oriunda dos egípcios, que acreditavam que os gatos eram portais para o outro mundo. Não é à toa que Bastet, deusa da lua, tinha cabeça de gato.

"O gato branco simboliza a lua prateada que se intromete nos cantos e purifica o céu para o dia seguinte. O gato branco é o "limpador", ou "o animal que se limpa", descrito pela palavra em sânscrito Margaras, que significa "o caçador que segue a trilha; o investigador, o rastreador ágil". O gato branco é o caçador e o matador, e seu caminho é iluminado pela lua prateada. Todos os lugares e pessoas escondidos nas sombras são revelados sob essa luz suave inexorável. Você não consegue afastar seu gato branco porque seu gato branco é você. Não pode se esconder de seu gato branco, porque seu gato branco se esconde com você".

Concluindo sua viagem de reminiscências felinas, Burroughs percebe que não somos tão diferentes assim desses animais. Embora haja particularidades físicas entre "nós", humanos e felinos parecem compartilhar muitas coisas em comum, como o próprio Burroughs aponta em seu último registro diário, "Somos os gatos por dentro. Os gatos que não podem andar sozinhos, e para nós há apenas um lugar".

Nota: ⭐⭐⭐


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