Simone de Beauvoir: Filosofia e Feminismo

Conhecida pela célebre frase: "Não se nasce mulher, torna-se", Simone de Beauvoir deixou grandes contribuições para nós, mulheres e homens. Apesar de pouco valorizada por questionar e analisar o papel das mulheres na sociedade, Beauvoir impulsionou a luta pelos direitos das mulheres através desses questionamentos e eles mudaram completamente o rumo e, por que não, o destino de todas as mulheres ocidentais de hoje. Não só das mulheres como também dos homens.
"Nasci, às quatro horas da manhã, a 9 de janeiro de 1908, num quarto de móveis laqueados de branco e que dava para o Bulevar Raspail. Nas fotografias de família, tiradas no verão seguinte, veem-se senhoras de vestidos compridos e chapéus empenados de plumas de avestruz, senhores de palhetas e panamás sorrindo para o bebê: são meus pais, meu avô, meus tios, minhas tias, e sou eu." (Retirado do livro Memórias de uma Moça Bem Comportada, autobiografia de Simone de Beauvoir).
A publicação dos dois volumes do livro O Segundo Sexo (Le Deuxième Sexe) deu grande destaque a Simone, mas não de uma forma tão positiva. Ao tratar da maternidade, recebeu críticas ferrenhas, pois questionavam: como ela poderia falar de maternidade se não era mãe? Mas apesar de sabermos que qualquer pessoa pode falar disso, ainda encontramos "pessoas" que apresentam os mesmos argumentos de 70 anos atrás. Toda a repercussão diante dessa publicação, foi em virtude de que o seu livro mais importante analisa o papel feminino na sociedade através do contexto histórico, biológico e social e, além disso, segundo os "intelectuais" da época, o livro era polêmico porque "ridicularizava os homens", o que não é bem verdade.


Mas nem só de feminismo viveu Beauvoir. Simone era existencialista, assim como Sartre, seu grande companheiro de anos, a quem, dizem as más línguas, Simone amava mais do que tudo e morria de ciúmes dele com outras mulheres. Sendo existencialista, Simone escreveu diversos livros, dentre autobiografias, relatando suas memórias, a ensaios discutindo filosófica e sociologicamente a organização da sociedade de sua época. 

Além de questionar a posição da mulher, ao escrever o ensaio sobre A Velhice (La Vieillesse), Simone abriu caminho para um tema muito pouco explorado e até hoje rejeitado. Diferente das civilizações orientais que respeitam os mais velhos e os têm como fonte de sabedoria e de respeito, o Ocidente pouco dá importância a uma fase da vida em que todos nós chegaremos, teoricamente, claro. O que é o velho para a sociedade? Em seu ensaio sobre a velhice, Simone analisa a posição que este tem na sociedade. O que, mesmo depois de 50 anos, continua sendo tão atual quanto na época em foi escrito pela primeira vez.


Apenas nove anos depois da publicação de O segundo sexo, já aos 50 anos, Simone publica seu primeiro livro autobiográfico, Memórias de uma Moça Bem Comportada (Mémoires d'une Jeune Fille Rangée), no qual, ela vai traçando toda a sua trajetória de vida e através dessa trajetória, vai expondo as razões que a levaram a questionar a posição da mulher na sociedade. Os livros que completam o seu ciclo autobiográfico, dando continuidade às Memórias são A Força da Idade (La Force de l'Âge) e A Força das Coisas (La Force des Choses), nos quais Simone detalha sua relação com Sartre, sua ligação com a corrente filosófica encabeçada pelo companheiro e de sua ligação e da frustrante decepção com o Partido Comunista Francês.

Mesmo com a ideia de avant-garde que a história nos mostra da França, falar de sexualidade, maternidade, identidades sexuais e velhice era como falar de tabus indesejáveis. O que, apesar de tantos anos, ainda são um grande tabu. Mas a "principal contribuição [de Simone] é sempre propor a discussão democrática e as rupturas das estruturas psíquicas, sociais e políticas. Por ser escrito por uma mulher e para mulheres, “O Segundo Sexo” levanta diversas questões, até mesmo no meio literário. Há muito tempo a literatura classificada como feminina é sinônimo de textos sem grande aprofundamento teórico." (In: Blogueiras Feministas). Com ou sem estereótipos, é inegável a contribuição que Simone nos deixou de legado, sobretudo, por ter dado um pontapé nas discussões sobre gênero e sexualidade na sociedade.

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