East New York: Uma Nova Lei (2022)

Quem acompanha o blog, sabe que eu sou muito fã de dramas médicos e dramas policiais. Já assisti a vários seriados nessa linha e ainda assim consigo me surpreender com alguns achados, digamos assim. East New York é uma série de 2022-2023 que se passa numa das áreas mais violentas e esquecidas de Nova York, no entanto, a vice-inspetora Regina Haywood é nomeada ao cargo para colocar ordem na casa e temos 21 episódios para acompanhar o caminho árduo que ela precisa seguir para conseguir alcançar os seus principais objetivos.


Título Original: East New York
Criação: William Finkelstein & Mike Flynn
País de Origem: EUA
Gênero: Drama Policial
Duração: 21 episódios - 44 min
Ano de Lançamento: 2022

No distrito de East New York, Regina Haywood (Amanda Warren) é nomeada vice-inspetora do leste da cidade, uma região empobrecida localizada no extremo Brooklyn, que é ocupada e habitada, em sua maioria, pela classe trabalhadora de Nova York. Haywood está no comando de um grupo de policiais e detetives multirracial (negros, brancos e latinos), o que acaba se tornando um desafio para ela, visto que alguns membros se mostram desconfiados e relutantes em seguir os seus métodos nada ortodoxos. Além da relutância de sua própria equipe, Regina também enfrenta desafios dentro da hierarquia da polícia, embora sua maneira de servir e proteger um bairro em processo de gentrificação fuja do convencional, isso não é bem visto por alguns dos seus superiores, que almejam uma carreira política além da militar. O problema ainda ganha maiores proporções com relação à comunidade, que tem sua própria visão e resistência em confiar no trabalho da polícia no bairro. 


Desde o primeiro episódio, ficam evidentes as disputas de poder que envolverão os desdobramentos do enredo da série. Haywood foi nomeada vice-inspetora e tem como maior aliado o inspetor chefe John Suarez (Jimmy Smits), que por ser porto-riquenho também enfrenta preconceitos, além de estar diretamente ligado à politicagem que faz a máquina pública girar. Abraçando a causa de Haywood, Suarez precisa não só manter seus princípios intactos como também necessita driblar as exigências de Raymond Sharpe (Darien Sills-Evans), candidato à prefeitura de East New York. Além da politicagem, o processo de gentrificação adiciona uma pitada a mais de instabilidade no distrito, visto que o alto índice de criminalidade é um dos reflexos da expulsão urbana da população pobre dessa área. As disputas por território e por poder perpassam desde os moradores até o alto escalão da polícia, cujo frisson gira em torno da indicação ao cargo de comissário, que seria indicado pelo novo prefeito do distrito.


Acerca da atuação de Haywood, sua primeira proposta é unir a comunidade à polícia por meio da convivência. Como uma das medidas de implantar seu programa de mudanças, ela sugere que alguns policiais residam em conjuntos habitacionais e que policiais realizem patrulhas a pé. A priori, a ideia ganha diversos opositores, mas quando finalmente é implantada, há uma mudança progressiva da presença policial na vida dos moradores. Ao morar nos conjuntos, os policiais Brandy Quinlan (Olivia Luccardi), uma policial branca, e Andre Bentley (Lavel Schley), um policial negro, passam a criar vínculos com os inquilinos e é estabelecida uma relação de confiança e segurança entre eles. Aos poucos, ver policiais nas ruas acaba facilitando o contato e as denúncias, já que os moradores não mais enxergam a polícia como uma entidade à parte, mas como pessoas que fazem parte da mesma comunidade. Apesar dos resultados positivos, Regina enfrenta diversos desafios, sendo podada e limitada em suas decisões devido aos interesses políticos de Sharpe. Vale ressaltar que dentro do universo da série, as medidas implantadas por Haywood funcionam, mas num contexto real, será que também dariam certo? 


Apesar de cada episódio trazer uma nova demanda e um novo crime para ser solucionado, alguns núcleos são desenvolvidos, como a relação dos detetives Crystal Morales (Elizabeth Rodriguez) e Tommy Killian (Kevin Rankin), que além de parceiros no trabalho, são melhores amigos fora dele. Há certo destaque para Killian, que se mata de trabalhar para ajudar sua noiva Corinne (Caitlin Mehner) a comprar um restaurante. Também há destaque para os dramas e traumas pessoais de Regina, bem como seus problemas de confiança com seu pai, Maurice "Mo" Haywood (Ron Canada) e com o namorado, o agente do DEA/FBI Sean Dryden (Donovan Christie Jr.). Sobre Quinlan, sabemos de sua origem pobre e problemática com sua mãe viciada, mas é no relacionamento com Bentley que percebemos o abismo de distância entre eles, já que após levar um tiro, Brandy descobre que Andre vem de uma família bem abastada. Além deles, temos algumas pinceladas sobre a vida do capitão Stan Yenko (Richard Kind), mas não sabemos por que razão sua esposa não consegue sair de casa. Por último, temos algumas indicações de que o policial e instrutor Marvin Sandeford (Ruben Santiago-Hudson) namorou Tamika (Luna Lauren Velez) no passado antes de se reencontrarem e de que o Inspetor Chefe Suarez não é casado e não tinha uma vida amorosa relevante até conhecer a diretora de campanha de Sharpe, Allison Cha (Kelly Hu).


Embora em alguns momentos a série não se decidisse por qual caminho seguir, se abraçava a causa ou apenas apontava o problema sem se envolver muito, alguns pontos positivos devem ser destacados. East New York surgiu como uma nova forma de ver a polícia, trazendo medidas nada convencionais, encabeçadas pela vice-inspetora Haywood, uma mulher negra. Como chefe imediato dela, temos um latino, na figura do Inspetor Suarez, que a apoia, mesmo que vá de encontro aos interesses políticos de Sharpe. Um dos maiores feitos da série foi, sem dúvidas, escalar um elenco majoritariamente de atores negros e latinos, no entanto, para uma proposta tão audaciosa, o roteiro não conseguiu trazer um discurso tão fluido, aparentando, em alguns momentos, uma mera panfletagem sobre uma polícia pacífica e humanizada. Além disso, um dos pontos levantados pela série, a truculência policial, acabou sendo ignorado e relegado a uma prática realizada apenas por alguns oficiais, o que na prática sabemos que não é bem assim (vide o caso de George Floyd, por exemplo). Apesar de suas falhas e de nem sempre sair de cima do muro, a série tentou dar uma repaginada no gênero policial, sendo o seu maior diferencial Regina Haywood, uma personagem cativante, mesmo que a priori pareça que ela será um reflexo do estereótipo de mulher durona, somos agraciados com essa fuga de clichê (e ainda bem!). Ela  tem a seu favor o senso de justiça e a aversão à politicagem, ao mesmo tempo em que é uma mulher madura, independente e bem resolvida. Ou seja, é por causa dela que a série consegue se sustentar e te prender do início ao fim. 


Ainda que muitos dos casos e alguns núcleos tenham sido resolvidos e finalizados, muita coisa ficou em aberto, como as eleições para prefeito, o destino do chefe Suarez na cadeia de comando, a resolução dos casos envolvendo o "empresário" Adam Lustig (Scott Cohen) e o romance entre Regina e Sean, que certamente seriam ganchos para a 2ª temporada. Infelizmente, apesar de ser uma das séries mais "inclusivas e revolucionárias" por trazer um elenco majoritariamente negro e latino, East New York foi cancelada após a sua primeira temporada. As causas do cancelamento foram: o desacordo entre a CBS e a Warner Bros. Television acerca de quem seria o responsável pelo orçamento para produzir o programa; a "proposta" (ridícula, diga-se de passagem) de renovação da série, mas sem aumento salarial para os atores; e a disputa pelo horário de exibição com a série S.W.A.T. Uma pena, porque essa série merecia uma sequência, em virtude do seu potencial como uma tentativa de reformar o gênero drama policial, mesmo que com falhas evidentes, como a tentativa de humanizar a imagem da polícia, porém, sem assumir o caráter militante e ativista necessário (o que poderia ser melhor trabalhado numa continuação). Apesar de tudo isso, eu gostei muito dos personagens e da história, vale muito a pena dar um voto de confiança. Recomendo. [Disponível na HBO Max].

Nota: ⭐⭐⭐⭐

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