Os Cem Anos de Lenni e Margot - Marianne Cronin

Após a leitura de Longo e Claro Rio, eu senti que precisava de uma história leve e tranquila que não envolvesse crimes nem drogas nem assassinatos. E eis que Os Cem Anos de Lenni e Margot caíram como uma luva, sendo uma excelente opção. Embora se pinte como um livro descontraído e irreverente, à medida que você vai lendo, mais seu coração vai ficando apertado, desejando que o final seja outro, que tudo na verdade é um grande engano, mas não é. [Spoiler: prepare os lencinhos!!]


Título Original: The One Hundred Years of Lenni and Margot
Autora:  Marianne Cronin
Tradução: Flávia Souto Maior 
Gênero: Ficção 
Editora: TAG/ Planeta
Páginas: 352 p. 
Ano de Publicação: 2021

Lenni é uma adolescente de 17 anos, dona de uma personalidade especial e de muito carisma. Pode-se dizer que é uma garota cheia de vida... exceto que, segundo os médicos, ela está à beira da morte. Como um modo de preencher seus dias no hospital em que está internada e sozinha - e de cumprir uma aposta feita com o padre Arthur -, Lenni começa a frequentar aulas de arte terapêutica. E é então que ela conhece Margot, uma senhora de 83 anos, doce e de coração rebelde como o de Lenni. A conexão entre elas é intensa e imediata, e as duas percebem uma peculiaridade: juntas, têm um século de vida! Para celebrar esses cem anos que compartilham, decidem montar uma exposição de cem pinturas, retratando, em cada uma, uma memória importante dos anos que viveram. Histórias de paixão, juventude, amadurecimento, alegria, afeto, enfim... histórias que merecem, sempre, ser compartilhadas.


Logo de cara, eu fui fisgada pela Lenni. É ela quem narra a história, apresentando todos os eventos sob o seu ponto de vista, nunca deixando de lado os seus comentários sarcásticos e irônicos quando necessários, mas sempre trazendo uma visão irreverente dos acontecimentos ao seu redor. Embora não esconda das pessoas que ela está morrendo, Lenni tem apenas 17 anos e uma sede de viver enorme. A vida não é justa, mas ela não se faz de vítima e tenta ser otimista, buscando viver da melhor maneira os seus últimos dias presa em um hospital. Ao longo dessa "aventura", Lenni faz amigos. Amigos leais e verdadeiros, mas é em Margot que ela encontra a sua alma gêmea da amizade, digamos assim. Apesar dos 66 anos de diferença entre as duas, a conexão instantânea das duas transforma uma discrepante diferença de gerações na amizade mais genuína e mais pura que você vai conhecer. A troca de experiências entre as duas, o cuidado e o amor que surge dessa aproximação fazem com que você se esqueça por alguns longos períodos de que Lenni tem uma condição limitante de vida e que o coração de Margot pode simplesmente parar de bater. No entanto, isso não importa, até acontecer de verdade, até porque as duas ainda têm tempo. Muito tempo pela frente... certo?
- Oi, sou a Lenni - falei, estendendo a mão.
Ela soltou o carvão e apertou minha mão.
- Muito prazer, Lenni - ela disse. - Eu sou a Margot.
[...]
Ela fez sinal para eu me sentar.
- O que está fazendo aqui? - ela perguntou. Sabia que estava se referindo à Sala Rosa, mas achei melhor ser sincera então falei a verdade.
- Disseram que eu vou morrer.
Houve um momento de silêncio entre nós enquanto Margot analisava meu rosto. Parecia que não estava acreditando em mim.
- Tenho um troço limitante da vida - expliquei.
- Mas você é tão...
- Jovem. Eu sei.
- Não, você é tão...
- Azarada?
- Não - Margot disse, ainda me encarando como se não acreditasse. - Você é tão viva.
Os pontos altos do livros são, sobretudo, a amizade de Lenni e Margot e como Lenni é uma luz na vida de cada uma das pessoas que ela conhece no hospital, modificando a vida da Temporária, que teve a ideia de criar a sala de arte terapêutica (a Sala Rosa); da Enfermeira Nova do cabelo cor de cereja; do solitário Padre Arthur, capelão do hospital; e de Paul, o rapaz da manutenção. Todos eles orbitam ao redor de Lenni, mas todos têm seu próprio brilho, especialmente, Margot. À medida que vamos conhecendo a vida da nossa heroína octogenária, vamos desejando que suas histórias nunca terminem, porque, assim, Lenni teria que ouvi-la contá-las. Mas não podemos esquecer que a história se passa em um hospital e, embora não fique claro, Lenni tem uma doença terminal e está internada para ter cuidados paliativos. Ela vive na Ala May, a ala do hospital em que residem os pacientes que nunca voltarão para casa. Sempre sozinha, Lenni não se sente solitária, mas a cruz que ela carrega é muito pesada, já que não recebe a visita de nenhum parente. Claro que é explicado o porquê de ela não ter os pais ao seu lado, no entanto, isso não deixa de ser triste. Apesar da iminência da morte, Os Cem Anos de Lenni e Margot não é um livro sobre o fim da vida, mas sobre amizade, companheirismo e amor, já que são eles que mudam o mundo ao nosso redor e são eles que tornam a vida de Lenni e de seus amigos menos angustiante dentro de um hospital. Um livro sensível e divertido ao mesmo tempo, que nos mostra a importância de viver cada dia intensamente. Muito bom. Super recomendo.

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Comentários

  1. Uma bela história, onde a dor é superada pela a amizade. Incrível quando isso acontece 🌹

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    1. Histórias sobre amizades inesperadas sempre me fascinam... estou ansiosa para ver a adaptação de Lenni e Margot. Enquanto isso, recomendo a leitura... vale muito a pena. ❤️❤️❤️

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