Suzy e as Águas-Vivas - Ali Benjamin

Todo mundo já ouviu uma vez na vida que algumas coisas simplesmente acontecem, sobretudo, quando se refere a algo que não tem uma explicação plausível ou aceitável para justificar o que aconteceu. Sendo assim, é um pouco sobre isso que esse livro irá tratar. Quais são os limites do conhecimento humano? Será que para todo acontecimento em nossas vidas existe uma resposta, uma explicação à altura que satisfaça todas as variáveis e tranquilize o nosso coração?


Título Original: The Thing About Jellyfish
Autora: Ali Benjamin 
Tradução: Cecília Camargo Bartalotti 
Gênero: Infanto-Juvenil
Editora: Verus 
Páginas: 224 p. 
Ano de Publicação: 2016

Suzanne Swanson está quase certa do real motivo da morte de Franny Jackson. Todos dizem que não há como ter certeza, que algumas coisas simplesmente acontecem. Mas Suzy sabe que deve haver uma explicação - uma explicação científica - para que Franny tenha se afogado. Assombrada pela perda de sua ex-melhor amiga - e pelo momento final e terrível entre elas -, Suzy se refugia no mundo silencioso de sua imaginação. Convencida de que a morte de Franny foi causada pela ferroada de uma água-viva, ela cria um plano para provar a verdade, mesmo que isso signifique viajar ao outro lado do mundo... sozinha. Enquanto se prepara, Suzy descobre coisas surpreendentes sobre o universo - e encontra amor e esperança bem mais perto do que ela imaginava.


A dor da perda pode fazer com que pessoas tenham reações distintas sobre o mesmo fato. Embora todos conhecessem Franny, a notícia de sua morte repercutiu de diferentes maneiras em cada um dos envolvidos na história. E Suzy é a que mais vai sentir o peso desse adeus forçado, digamos assim. Depois de anos sendo amigas inseparáveis, após o ingresso no Fundamental II, algo muda drasticamente na relação das duas. Enquanto Suzy permanece com os mesmos interesses e a mesma "esquisitice", Franny passa a se interessar por garotos e maquiagem. A priori, Suzy não consegue entender o porquê da mudança repentina da melhor amiga e, por não aceitar muito bem as mudanças, nossa protagonista acaba tomando decisões equivocadas, afastando ainda mais a antiga amiga.

O fato de as duas não estarem mais se falando como antes e a notícia da morte de Franny fazem com que Suzy entre em colapso. Sua mente não aceita racionalmente que Franny tenha morrido afogada, mesmo sendo uma exímia nadadora. Quando sua mãe tenta explicar que algumas coisas simplesmente acontecem, a não-resposta, a não-explicação amplifica a dificuldade de Suzy de lidar com a morte da amiga, que reage se negando a falar com as pessoas ao seu redor. Suzy adota a política do silêncio e parte numa busca desesperada por uma explicação - de cunho científico e, portanto, inquestionável - para a morte precoce de Franny.


É durante uma aula de campo da escola visitando um aquário gigante que Suzy tem um insight. Talvez Franny tenha morrido afogada, porque foi picada por uma água-viva minúscula e invisível. Enquanto nadava despreocupadamente, uma água-viva venenosa flutuava ao lado de Franny, que involuntária e distraidamente foi picada pelo animal. Chegando a uma explicação, era necessário provar a todos o motivo que ceifara a vida de uma jovem de 12 anos, mas para isso, Suzy teria que enfrentar mais um desafio, conversar com as pessoas para expor a sua incrível descoberta. 

A premissa do livro é bastante simples: uma menina de 12 anos perde a sua melhor amiga, com quem já não conversava como antigamente, e a vida passa a não fazer mais sentido. Sendo assim, Suzy decide não falar sem que haja necessidade disso. Além de não saber lidar com a perda, aquilo não poderia ter acontecido sem uma explicação plausível. Como que uma nadadora experiente poderia morrer afogada? Como Franny poderia morrer brigada com Suzanne? Por mais que Suzy direcione a sua atenção para as águas-vivas, percebemos que estamos diante de um livro sobre luto, sobre aprendizado, sobre recomeços. A busca por uma resposta faz com que Suzy saia de sua zona de conforto e confronte a realidade. Esse movimento de dentro para fora é a maneira que a protagonista encontra para lidar com o seu sofrimento. Qual a forma adequada de lidar com a morte de alguém tão próximo, tão querido? De modo sensível e lúdico, Ali Benjamin consegue nos trazer uma história sobre perdas, fugindo de clichês e de fórmulas mágicas de autoajuda. Aqui, Suzy apenas inicia a sua jornada de autoconhecimento, tão necessária em momentos de dor e de luto. Vale muito a pena a leitura. Recomendo. 

Nota: ⭐⭐⭐⭐

Comentários

  1. As pessoas, tem suas próprias estratégias para a fuga da dor da perda. Talvez não esqueçamos mais, uma hora alivia.😔

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    1. Exatamente... em algum momento, a dor alivia. Mas nunca dá pra saber como vamos reagir à perda de alguém que amamos.

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