Naturalmente, quando vemos algo injusto acontecendo, instintivamente, ficamos indignados. Mas ao mesmo tempo em que ficamos indignados, também podemos nos sentir frustrados, já que, muitas vezes, a indignação/revolta é seguida de impotência, sobretudo, quando não somos capazes de provar a inocência de uma pessoa querida. É essa a premissa do livro da escritora afro-americana, Tayari Jones, que estudou durante bastante tempo sobre condenações arbitrárias nos EUA envolvendo, em sua maioria, condenações de negros americanos.
Título Original: An American Marriage
Autora: Tayari Jones
Tradução: Alves Calado
Gênero: Drama, Romance
Editora: Tag/ Arqueiro
Páginas: 368 p.
Ano de Publicação: 2018
Em Um casamento americano, é narrada a história dos recém-casados Celestial e Roy. Eles moram em Atlanta, Geórgia, e são a personificação do sonho americano: Celestial é uma artista em ascensão e Roy, um jovem executivo. Entretanto, tudo isso muda, após uma viagem ao estado de Louisiana, onde Roy é preso e condenado a 12 anos de reclusão, acusado de um crime que não cometeu. O casal que tinha uma vida inteira juntos é separado pela injustiça racial, tendo que encontrar uma maneira de manter o casamento e superar tais circunstâncias.
"Às vezes, quando você gosta de onde chegou, você não se importa com como chegou lá".
Quando decidiu escrever esse livro, Tayari Jones já tinha feito toda a sua pesquisa, mas precisava dos personagens certos. Um dia, ao visitar a sua mãe em Atlanta, ela avistou um casal discutindo, embora parecessem apaixonados. Numa das falas, Tayari ouviu a mulher dizer ao marido: "Roy, você sabe que não teria me esperado por sete anos" ao que ele respondeu: "Você sabe que isso nem teria acontecido com você". Independente do que eles estivessem debatendo, foi a partir daí que Jones decidiu dar vida a Um casamento americano.
O livro é dividido em três partes: A música da ponte, Prepare uma mesa para mim e Generosidade, além disso, cada capítulo é narrado por um dos personagens: Roy, Celestial e Andre. Sendo assim, podemos acompanhar uma cronologia dos acontecimentos. Quando Celestial e Roy se conheceram e a época do casamento, a visita aos pais de Celestial, na Louisiana, a tentativa desesperada de Celestial e de Roy de se manterem unidos e apaixonados, a sentença e reclusão até a desesperada tentativa de manter o casamento vivo. Cada capítulo nos dá uma visão ampla dos acontecimentos sob o ponto de vista dos envolvidos. O drama construído por Tayari Jones nos apresenta um conflito que qualquer pessoa poderia enfrentar, sendo negro em qualquer lugar do mundo.
"Ela me contou que desde bem pequena eu fui atrás do que queria. "Você sempre corre atrás do que quer. Seu pai sempre tenta colocar um freio em você, só que você é como ele: brilhante mas impulsiva, e um pouquinho egoísta. No entanto, mais mulheres deveriam ser egoístas para que o mundo não passasse tanto por cima da gente"."
Embora o sistema carcerário americano seja pano de fundo para essa narrativa, revelando o que está expresso em dados, como o fato de que 46% dos presos por engano nos EUA são negros (segundo The National Registry of Exonerations), Tayari expõe as consequências desse "engano" na vida dos envolvidos. Roy é preso injustamente por um crime que não cometeu, tendo uma defesa ineficiente e sendo condenado a 12 anos de reclusão. O que você faria nessa situação? Por quanto tempo você conseguiria esperar? A vida feliz de Roy e de Celestial acaba antes mesmo de começar e o destino dos dois é alterado para sempre. Nesse drama, Jones mostra como um acontecimento arbitrário pode mudar drasticamente a vida de um jovem casal e que, mesmo que um dia seja revelada a inocência do Roy, o estrago é maior do que qualquer restituição que o estado possa oferecer. Recomendo a leitura.
Nota: ⭐⭐⭐
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