Existem livros que, por alguma razão, você não sabe explicar por que eles se tornam tão queridos ou impactantes para você. E esse é um exemplo disso. Luzes de Emergência se Acenderão Automaticamente me veio como uma grata surpresa, embora, de alguma forma, eu sentisse como se tivesse levado um soco no estômago. Talvez, porque algumas realidades, algumas histórias remexem o seu íntimo de tal forma, que é até difícil descrever a sensação. Foi bom? Foi ruim? O que é isso? No final, eu gostei pacas desse livro.
Título Original: Luzes de Emergência se Acenderão Automaticamente
Autora: Luisa Geisler
Gênero: Ficção Literária
Editora: Alfaguara
Páginas: 296 p.
Ano de Publicação: 2014
O livro conta a história de Henrique, ou simplesmente, Ike. Ele mora nos subúrbios de Porto Alegre com seus pais e se considera uma pessoa normal, apesar de tudo. Ike frequenta a faculdade, trabalha num posto de gasolina em meio período, tem uma namorada, no entanto, alguma coisa o impede de se abrir totalmente com as pessoas ao seu redor.
Apesar de Ike viver uma vida, aparentemente, normal, tudo muda quando seu melhor amigo, Gabriel, bate a cabeça num acidente banal e, depois de hospitalizado, entra em coma. Ike e os pais de Gabriel, bem como amigos e o irmão mais velho do amigo, aguardam por algum sinal de melhora, que nunca aparece.
Com o amigo em coma, a rotina de Ike muda. Ele passa a carregar consigo vários cadernos em que escreve sobre o seu dia a dia, sobre seus amigos, seus sonhos e expectativas sobre o futuro. E tudo que ele escreve é como se fossem cartas para atualizar Gabriel sobre tudo que aconteceu enquanto ele estava em coma. Mas a verdade é que ao escrever cartas para o amigo em coma, Ike encontra uma maneira de falar sobre si mesmo, sobretudo, acerca dos seus sentimentos e anseios.
"Queria saber quando tu ia acordar, como tu tá, o que tem acontecido, se tem algo que dê pra fazer"
A narrativa de Ike é recheada de um humor ácido e desconcertante, que faz com que o leitor fique com um nó na garganta, de quando em vez. O tempo vai passando e Gabriel não dá nenhum sinal de melhora. Está sempre na mesma e isso desencadeia vários sentimentos de frustração e de impotência em Ike. O que não deixa de ser compreensível.
É por meio dessas cartas, em que Ike vai entremeando narrativas curtas, que nós vamos tendo percepção do que está acontecendo e do quanto ele tem noção ou não disso. Ike enfrenta muitos dilemas, seu namoro não vai bem, ele gosta da namorada, mas sempre tem um porém. Ele não quer sair com os amigos no Carnaval, mas acaba indo e vive um conflito acerca da sua sexualidade. Mas tudo isso surge como uma maneira de atualizar Gabriel sobre o mundo lá fora. No entanto, se analisarmos bem, Gabriel se torna uma desculpa para a jornada de autoconhecimento de Ike, mesmo que ele não saiba disso. Recomendo demais a leitura.
Nota: ⭐⭐⭐⭐
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