A Vendedora de Fósforos - Adriana Lunardi

Quem lê A Vendedora de Fósforos, de Adriana Lunardi, tem que ter em mente o conto do escritor dinamarquês, Hans Christian Andersen, A Pequena Vendedora de Fósforos (1845), que conta a história de uma menina que tentou se aquecer ao acender todos os fósforos, mas que morre devido ao frio e ao cansaço. Embora o título desse romance brasileiro faça uma ponte com o conto de fadas clássico, Lunardi traz, em suas páginas, uma pequena vingança literária, digamos assim. 

Título Original: A Vendedora de Fósforos

Autora: Adriana Lunardi

Gênero: Ficção Literária

Editora: Rocco

Páginas: 192 p.

Ano de Publicação: 2011

A Vendedora de Fósforos não é uma leitura fácil à primeira vista, o que requer do leitor bastante atenção aos detalhes, já que estamos falando de uma narrativa que resgata memórias e momentos do passado, apresentando, portanto, um enredo fragmentado e não-linear. Além disso, a narradora em primeira pessoa não te entrega nada de bandeja, mantendo sempre algo em particular, como se o leitor não fosse alguém de sua total confiança.

No livro de Lunardi, uma mulher está aproveitando a sua folga de fevereiro para colocar em ordem a sua estante de livros. O que era para ser uma arrumação simples e banal, acaba sendo interrompida por um telefonema informando que sua irmã, que mora em outra cidade, foi internada mais uma vez após mais uma tentativa de suicídio. É esse acontecimento que faz com que a narradora personagem inicie um movimento de peregrinação por suas memórias até se reencontrar com a irmã e expor os percalços que fizeram com que as duas se separassem.

"Eu pensava que levaria algum tempo para tudo voltar a ser como antes, mas estava enganada. Nada volta a ser o que era. Depois de meses pensando que aquela cidade era um playground, uma cenografia para o meu ambicionado começo, descobri que eu brincava nas costas de um mamífero, um ser vivo e irritado que podia perder o controle a qualquer momento".

Vai sendo construído um cenário familiar delicado, permeado de excentricidades e extravagâncias pessoais. Todos que compõem o núcleo familiar das personagens possuem algum hábito deveras peculiar. No entanto, as peculiaridades que nos tornam pessoas únicas, nesse caso, desencadeiam traumas irreversíveis nas personagens: enquanto uma decide fugir dessa atmosfera tóxica, a outra não consegue se desvencilhar das amarras familiares. Vale ressaltar que ao final da narrativa, muita coisa é revelada, mas não se engane, nem tudo é de fato entregue, pegando o leitor de surpresa ao fim da narrativa. A Vendedora de Fósforos se vinga da injustiça que a personagem de Andersen sofre, por meio de uma leitura densa e imbricada, que ora te esclarece, ora te perturba. No entanto, vale a pena se surpreender com essa história. Recomendo.

Nota: ⭐⭐⭐⭐


Comentários