O Bom Filho - Jeong You-Jeong

O Bom Filho foi anunciado como um thriller psicológico emocionante de uma das autoras sul-coreanas mais famosas na Coreia do Sul. Ela é conhecida como a Stephen King coreana, o que, por si só, gera muita expectativa em torno da narrativa. Embora eu seja uma leitora que ama suspenses, infelizmente, O Bom Filho não caiu muito nas minhas graças. 

Título Original

Autora: Jeong You-Jeong

Tradução: Woo Jae Hyung

Gênero: Suspense

Editora: Tag/ Todavia

Páginas: 288 p.

Ano de Publicação: 2019

Certa manhã, Yu-Jin, um jovem nadador com um futuro brilhante pela frente, acorda sentindo um cheiro estranho e metálico. O telefone toca e é seu irmão adotivo, Hae-Jin, perguntando se está tudo bem em casa. E é aí que Yu-Jin se depara com um corpo deitado em uma poça de sangue no elegante dúplex onde mora com sua mãe. Tudo indica que ele tenha sofrido uma crise epiléptica na noite anterior, o que faz com que ele não se lembre de muita coisa, no entanto, ele tem a vaga lembrança de ouvir a voz da mãe o chamando e é a partir daí que ele inicia uma "jornada" para tentar descobrir o que realmente aconteceu naquela fatídica noite.

O Bom Filho surge numa leva de livros asiáticos que vem se difundindo aqui no Brasil. A maneira como o suspense é desenvolvido na história e de como Jeong You-Jeong conduz o enredo enfatiza e explora os mistérios da mente e da memória, mostrando a violência que habita onde menos se espera, fazendo jus à fama que ela ganhou na Coreia do Sul. Além disso, tudo isso fica claro quando vamos, aos poucos, desvendando o que aconteceu na casa luxuosa de Yu-Jin. Enquanto ele vai tentando descobrir o que houve na noite anterior, vamos não só conhecendo sua personalidade como também os segredos sombrios sobre a sua família. O que é até meio clichê: toda família rica sempre guarda um segredo terrível que pode mudar o rumo da vida de todos os envolvidos.

Narrado em primeira pessoa, vamos acompanhando as descobertas de Yu-Jin sobre quem ele realmente é, mas não se iluda, pois aqui temos um caso clássico de um narrador não confiável. Em contrapartida, vamos percebendo que a vida do protagonista sempre foi limitada pelas crises epilépticas que o afastaram das piscinas e das competições. No entanto, após a morte da mãe, Yu-Jin encontra o diário dela e passa a conhecer o real motivo de sua doença, que diferente do que sempre acreditou, não era epilepsia. Apesar de a narrativa tentar criar/trazer uma atmosfera sombria e tensa, para mim, a fórmula não deu muito certo. 

O cheiro de sangue me acordou. Era um cheiro incrivelmente intenso, como se não o absorvesse apenas pelo nariz, mas pelo corpo inteiro. Como se passasse um tubo de ressonância, o cheiro se ampliava e reverberava dentro de mim. Cenas estranhas flutuavam por minha mente: a luz fosca e amarela de postes enfileirados na névoa, água redemoinhando sob meus pés, um guarda-chuva vermelho-escuro rolando na rua molhada pela chuva, uma lona de construção balançando ao vento. Em algum lugar, um homem com dicção arrastada cantava uma música: Uma mulher anda na chuva, uma mulher inesquecível.

O ritmo em que os eventos vão se desenvolvendo é muito lento, o que - na minha opinião - acaba fazendo com que o timing dos plot twists seja perdido, sobretudo, sobre o desfecho da história, que acaba sendo previsível demais. Além disso, o protagonista vai te causando bastante repulsa - ainda bem, né, porque seria muito estranho não sentir raiva do Yu-Jin - o que eu acredito que tenha sido a intenção da autora desde o início, já que o Yu-Jin é uma ameaça ambulante, no entanto, toda a construção para tentar mostrar que ele teve uma vida de privações não justifica nem ameniza o fato de ele ser repulsivo. O fato de a narrativa ser mais arrastada e de o protagonista não me manter conectada com a história me fez largar a leitura várias vezes antes de conseguir terminar o livro.

Yu-Jin tem seus motivos para querer ter o controle de sua vida, já que sua mãe e, principalmente, sua tia materna, exerciam grande repressão sobre ele. No entanto, o único personagem cativante, honesto e inocente, Hae-Jin, acaba tendo um dos finais mais esdrúxulos possíveis (confesso que odiei esse final). Para quem adora suspense, pode gostar muito do livro ou se decepcionar bastante, como eu. Meu descontentamento em relação à história foi porque eu não me senti convencida das motivações do protagonista, tudo me pareceu pequeno demais para ser uma boa razão. Entretanto, a ideia de que o mal pode estar em qualquer lugar, sobretudo, onde você menos espera é bastante interessante e é um dos pontos altos do livro. Para mim, o dilema da mãe de Yu-Jin é a melhor parte da história, afinal, o que um pai deve fazer ao descobrir que seu filho, uma criança, na verdade, é um monstro? No mais, vale a pena conhecer o livro e eu espero que a sua experiência seja bem melhor do que a minha.

Nota: ⭐⭐


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