Apesar de trazer um tema muito parecido com o que estamos vivenciando atualmente com a pandemia da Covid-19, Os Sonhadores deixa muitas questões em aberto e divide opiniões entre seus leitores: há quem tenha amado, há quem tenha detestado e há as pessoas que nem eu: que acharam mais ou menos bom, porém sentiram falta de um quê a mais, que infelizmente, não teve. [Pode conter spoiler].
Título Original: The Dreamers
Autora: Karen Thompson Walker
Tradução: Renato Marques
Gênero: Ficção Científica
Editora: Tag/ Alfaguara
Páginas: 331 p.
Ano de Publicação: 2020
Numa pacata cidade do sul da Califórnia, nos EUA, uma misteriosa doença do sono faz com que seus habitantes vivenciem momentos aterrorizantes. Todos passam a ser alvos de um sono profundo e, aparentemente, perpétuo, em que ninguém é capaz de descobrir o que está acontecendo e nem por quê. Numa narrativa que mescla mistério, amor e terror, Karen Thompson Walker traz à tona uma visão panorâmica de uma crise sanitária que assola a pequena cidade universitária de Santa Lora.
Narrado em 3ª pessoa, Os Sonhadores tenta ao máximo apresentar as diversas facetas da doença que se instala nessa pequena cidade, cujo destaque é a universidade e o lago que há anos vem sofrendo com a seca. Os capítulos não se centram num único personagem, mantendo a proposta de uma visão panorâmica literalmente. Embora a história fique pulando de personagem em personagem, à la As Crônicas de Gelo e Fogo, vamos tendo uma noção de como cada pessoa: estudantes, moradores, médicos etc., reage ao que está acontecendo em Santa Lora.
A maioria dos personagens passa a maior parte do tempo dormindo, acometida pela doença misteriosa que faz com que o doente caia num sono profundo e indeterminado. No entanto, enquanto eles dormem, a cidade vive a agitação da crise que se instaura, quando várias pessoas começam a aparecer doentes, sem que haja leitos suficientes para interná-las. Isso te fez lembrar de alguma coisa? E antes que alguém pergunte, não é uma mera coincidência Os Sonhadores ter chegado ao Brasil justamente em 2020, entretanto, a autora assegura que vinha escrevendo esse livro há muitos anos, antes de alguém sonhar com a chegada do Coronavírus.
Apesar de eu adorar suspenses que soam meio como ficção científica: um vírus que acomete uma cidade inteira deixando vários estragos pelo meio do caminho, Os Sonhadores deixa muito a desejar. Os personagens não aparecem tanto a ponto de serem cativantes e interessantes. Além disso, muitos personagens aparecem ao longo da narrativa, como Mei, a estudante universitária de ascendência chinesa que não interage com ninguém por ser muito tímida; Matthew, universitário que odeia a indústria farmacêutica, mesmo sendo herdeiro de uma; as irmãs Sara e Libby; a universitária Rebecca que engravida antes de adoecer e enquanto dorme, a barriga vai crescendo; Ben e Annie, o casal de professores que se muda pra Santa Lora na esperança de começar do zero; e Catherine, a psiquiatra que fica presa na cidade após declararem a quarentena; todavia, nenhum deles é explorado o suficiente a ponto de você torcer por algum deles. E uma dica, não se apeguem aos personagens, pode ser frustrante.
Confesso que não concordei com o final de alguns personagens, mas fazer o quê? Não foi isso que me incomodou no livro, mas sim o fato de a história não dar uma explicação sobre nada. Há apenas uma vaga menção de que a tal doença do sono era provocada por um vírus e mais nada, além disso, a gestação de Rebecca funciona como a única marcação temporal do livro. O tempo passa, mas nenhuma cura é encontrada, nem sequer é esclarecido o que causou a doença. Foi um surto coletivo? Nunca saberemos e acredito que nem tenha sido essa a intenção da narrativa que, embora tenha me frustrado bastante como leitora, tem lá a sua relevância como uma homenagem [?] à obra-prima de José Saramago, Ensaio sobre a cegueira.
Nota: ⭐⭐⭐
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