Conheci esse livro, enquanto pesquisava coisas aleatórias na internet. A priori, achei que pudesse ser uma história interessante e envolvente, entretanto, enquanto eu torcia para que a protagonista amadurecesse e se tornasse uma garota forte, infelizmente não foi isso que eu vi acontecer. Ao longo de quase 300 páginas, somos apresentados a uma heroína marcada pela culpa, como se tivesse cometido o pior erro do universo, num tipo de condenação social extremamente exagerada para uma história que se passa em pleno século XXI.
Título Original: 99 Days
Autora: Katie Cotugno
Tradução: Débora Isidoro
Gênero: Young Adult
Editora: Rocco
Páginas: 293 p.
Ano de Publicação: 2018
Molly Barlow namorava o cara dos sonhos, até traí-lo com Gabe Donelly, o irmão mais velho dele. Uma amizade de anos e o namoro perfeito acabam da noite para o dia, mas tudo isso só piora, quando motivada pela culpa, Molly desabafa com a mãe, que se apropria da história da filha e escreve um best-seller. O que era para ser um segredo, torna-se a cruz pesada que Molly tem que carregar. Sufocada com a atmosfera de ódio e fofoca contra ela, a garota decide passar o seu último ano de colegial num colégio interno, bem longe de Star Lake. No entanto, antes de ir para a universidade, Molly ainda tem 99 dias de verão para passar as férias na cidadezinha do seu maior pesadelo.
Após a leitura de 99 Dias, senti-me profundamente frustrada com a história e com a protagonista. Lembro que fiquei dias, meses, ansiosa para conseguir ler o livro, até ter a surpresa decepcionante de um triângulo amoroso forçado e sem sal, com adolescentes melodramáticos ao extremo e quase fora de contexto com a realidade. Nem mesmo a adolescente que habita em mim e que adora livros Young Adult simpatizou com esse enredo insosso e cansativo.
"Eu havia me esquecido, ou tentado me esquecer, de como as coisas eram antes de eu fugir daqui um ano atrás: o sagrado reino tenebroso da Julia, projetado com precisão implacável para me punir por todos os crimes capitais que cometi".
Molly é o tipo de personagem que me dá nos nervos. E poucas foram as personagens que caíram no meu desagrado a esse ponto. O livro promete uma narrativa de redenção: Molly volta para Star Lake para passar as férias de verão, mas obviamente enfrentará os seus fantasmas. No entanto, a redenção demora a vir e o livro fica preso o tempo todo no mote: traição merece perdão? Mas no fundo, é a própria Molly que precisa se perdoar e sair da fossa. Entretanto, ao invés de levantar a cabeça, ela acredita piamente que merece sofrer tudo o que fazem com ela. Desde pichações no seu carro, com direito a bilhetes chamando-a de "vadia", a vandalismos em seu jardim.
Além disso, ela se sente isolada e magoada pela mãe ter publicado sua história daquela maneira - o que por si só é surreal ao extremo. Que tipo de mãe faz uma coisa dessas? E com a própria filha? E ainda por cima, morando numa cidade minúscula cheia de fofoqueiros e alcoviteiros? A verdade é que Molly passa a maior parte da narrativa se sentindo um cocô, uma escória da sociedade e mesmo que em alguns momentos ela tenha plena consciência de que não fez nada de errado sozinha, ela é a única que tem que suportar a humilhação calada, até porque Gabe está na faculdade, bem longe dali.
Molly traiu o namorado. E só vamos descobrir o porquê e o como tudo isso aconteceu muito mais na frente. E quando finalmente entendemos como a traição aconteceu e os sentimentos conflitantes vivenciados por Molly, não podemos condená-la sumariamente. Apesar de não ter sido um erro tão grande, a história torna essa traição numa transgressão enorme e execrável, reforçada pela narrativa em primeira pessoa da protagonista, que não para de se sentir culpada e envergonhada e blábláblá, o que me irritou profundamente.
Os primeiros capítulos do livro te prendem logo de cara, mas o tom que é dado ao longo da narrativa é enfadonho. Uma Molly que tem medo da Julia, sua ex-cunhada e "ex-amiga", uma Molly que tem medo de reencontrar o ex-namorado, Patrick, uma Molly que morre de medo de encontrar o ex-cunhado, Gabe. O tempo todo, vemos uma heroína medrosa, acuada, solitária e, por mais que eu entenda todo o machismo da sociedade que sempre condena a mulher e não o homem, ainda assim, não consegui gostar da protagonista, nem da história do livro. Para Molly é uma grande coisa o que aconteceu, é compreensível, porém são 293 páginas de uma menina pré-universitária que vai embora de Star Lake em poucos meses e mesmo assim, fica se martirizando e aceitando toda humilhação recebida. Isso irrita qualquer pessoa.
"É a caligrafia da Julia em tinta cor-de-rosa no verso de um cardápio de comida chinesa para viagem: Vadia suja. O pânico é frio e úmido e escorregadio por um segundo, imediatamente substituído pela onda quente de vergonha; meu estômago se contrai. Tiro o cardápio do para-brisa e amasso o papel mole e pegajoso no punho fechado".
Obviamente, Molly não é apenas uma menina da ficção que cometeu uma traição no calor do momento, motivada pela raiva e/ou pelo desejo. Muitas meninas reais passaram por isso e aí fica o questionamento, essas meninas têm que aceitar tudo que Molly aceita em 99 Dias? Toda mulher que trai merece toda essa expiação e espetacularização (já que a mãe de Molly publica a história da filha para ganhar fama)? Embora Cotugno force a barra ao criar um triângulo amoroso entre Molly, Gabe e Patrick, tentando justificar que, desde pequena, Molly e Gabe já nutriam sentimentos um pelo outro, na minha humilde opinião, essa tentativa só ajudou a tornar todo esse romance ainda menos atraente e convincente. Uma pena...
Apesar de ter sido uma leitura frustrante, a personagem Tess, que se torna amiga de Molly, é a única personagem interessante da trama, por ser honesta, verdadeira e gentil. Embora seja a atual namorada de Patrick, Tess não é a atual que morre de ciúmes da ex do namorado, no entanto, Molly não sabe que Tess é a atual do seu ex. Outra personagem interessante é a Imogen, melhor amiga de Molly, que é abandonada por ela sem sequer ter recebido uma mensagem de adeus. Magoada por ter sido largada para trás, Imogen não aceita muito bem a volta da amiga. Afinal, por que pouco sofrimento para uma adolescente que traiu o namoradinho? Com exceção da Tess, melhor personagem do livro e, que infelizmente, aparece muito pouco, os demais não suscitaram muita empatia ou simpatia da minha parte. A única sensação que ficou da leitura foi a de que eu perdi meu tempo, mas sempre há quem tenha amado o livro.
Nota: ⭐⭐
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