Segundo livro do autor chileno Alejandro Zambra, conhecido por escrever Bonsai, A vida privada das árvores traz um romance curto, cujo tema principal é o amor, mas com uma abordagem diferente: a espera. Somos apresentados a um narrador em primeira pessoa que detém o controle dos fatos que são contados ao leitor, enquanto nós "esperamos" junto com ele. [Pode conter spoiler].
Título Original: La Vida Privada de los Árboles
Autor: Alejandro Zambra
Tradução: Josely Vianna Baptista
Gênero: Ficção Literária
Editora: Cosac Naify
Páginas: 96 p.
Ano de Publicação: 2013
Alejandro Zambra é conhecido pela obra Bonsai, romance de narrativa curta tal qual A vida privada das árvores. Nesse seu segundo romance, conhecemos Julián, um professor de literatura e aspirante a escritor, que está em casa esperando a esposa, Verónica, voltar da aula de desenho. Somos, então, apresentados a uma história de espera. Julián espera o retorno da esposa, mas esta nunca chega. A espera se alonga e enquanto isso, ele vai contando histórias de árvores para Daniela, sua enteada.
"Neste exato momento, refugiadas na solidão do parque, as árvores comentam o infortúnio de um carvalho em cuja casca duas pessoas gravaram seus nomes como prova de amizade. Ninguém tem o direito de fazer uma tatuagem sem o seu consentimento, opina o álamo, e o baobá é ainda mais enfático: o carvalho foi vítima de um lamentável ato de vandalismo. Essas pessoas merecem castigo. Não vou descansar até que tenham o castigo que merecem. Vou percorrer céus, mares e terras a persegui-los".
Daniela e Julián esperam ansiosos pelo regresso de Verónica. Para distrair a enteada, Julián começa a contar histórias para a menina que logo adormece, abrindo espaço para os pensamentos do narrador, que fica criando teorias para explicar a demora da mulher, que nunca chega. É nesse momento que o protagonista vai percorrendo na memória fatos e acontecimentos do seu passado, desde a infância até o seu relacionamento com Karla, com quem ele morava antes de conhecer Verónica. Julián vai e volta nas suas reminiscências até chegar ao ponto de inventar um futuro no qual Verónica já não faz parte dele.
À medida que Julián vai resgatando os momentos do passado, vamos conhecendo fatos de sua infância, vamos compreendendo como seu relacionamento com Karla, que quase virou sua inimiga, vai se desgastando até ele ser literalmente expulso da casa dela, vamos entendendo como ele foi conquistando a confiança de Daniela, que a priori, se mantém muito resistente com a ideia do novo casamento da mãe e como se dá a sua história de amor com Verónica.
"[...] ama-se para deixar-se de amar e se deixa de amar para começar a amar os outros, ou para ficar sozinho, por um tempo ou para sempre. Esse é o dogma. O único dogma".
Vale salientar que a narrativa fica o tempo todo dizendo que quando Verónica chegar, o romance acaba. Enquanto não, Julián vai criando teorias para a demora da companheira. As horas vão passando e nenhum telefonema ou notícia do atraso atípico da esposa. Mas Julián, apesar da ansiedade, não esboça nenhuma iniciativa de ir atrás dela, ele apenas espera. E ela não chega. A sensação que dá é de que Julián desiste facilmente da amada, já que em um trecho da narrativa ele fala de como seu amor pode ser efêmero, amando e deixando de amar no mesmo instante.
Sobre o romance, Zambra não soluciona o caso do sumiço de Verónica, nem nos apresenta nenhuma pista ou justificativa do que poderia ter acontecido. Ela apenas não chega e Julián espera enquanto Daniela dorme. E cabe ao leitor imaginar as várias possibilidades para o fim dessa história.
Nota: ⭐⭐⭐
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