Lady Bird - É Hora de Voar (2017)

O primeiro filme dirigido pela Greta Gerwig chegou abalando as estruturas de Hollywood. A produção foi indicada a diversos prêmios e está concorrendo a cinco indicações ao Oscar, dentre elas, o de Melhor Filme, Melhor Diretora, Melhor Roteiro Original, Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante. Embora, para muitos, o tema do filme seja algo já saturado em Hollywood e em produções independentes, Lady Bird consegue tratar com originalidade e maestria sobre os conflitos mais comuns na adolescência. [Não contém spoiler].


Título Original: Lady Bird
Direção/ Roteiro: Greta Gerwig
País: EUA
Gênero: Comédia Dramática
Duração: 94 min.
Ano de Lançamento: 2017

Lady Bird conta a história da adolescente Christine McPherson (Saoirse Ronan), que por não gostar do próprio nome, prefere ser chamada de Lady Bird. Ela mora em Sacramento, na Califórnia, mas para ela, viver nessa cidade é o mesmo que estar presa num lugar repleto de pessoas caretas e atrasadas, por essa razão, seu objetivo é tentar entrar numa faculdade longe de casa, em lugares como Nova York, por exemplo. Apesar da relação complicada com a mãe, percebemos que ela não deseja que a filha faça faculdade fora da Califórnia, por causa da questão financeira da família.



Um dos grandes acertos do filme, na minha opinião, foi mostrar a trajetória de amadurecimento da personagem principal da maneira mais humana possível. Estamos muito acostumados a ver filmes que mostram o amadurecimento de garotos e perdemos a conta de quantos filmes trazem essa temática, em contrapartida, há pouquíssimos títulos que retratam de maneira impessoal e sem julgamentos de valor, o amadurecimento de garotas. Lady Bird mostra de maneira quase realística a trajetória de amadurecimento de Christine, que embora dialogue com estereótipos tão comuns nesse tipo de narrativa, constrói um enredo totalmente além deles, ou seja, não vemos a famigerada relação de rivalidade entre garotas, tão comum nesse tipo de história.



Vale salientar que o roteiro não foca apenas na Lady Bird, o filme consegue trabalhar muito bem os demais personagens. E vamos conhecendo dessa maneira o porquê de a relação entre mãe e filha ser tão complicada e o porquê de a dinâmica familiar dos McPherson ocorrer daquela maneira. Outro ponto positivo do filme é justamente mostrar os personagens como pessoas da vida real, que cometem erros e acertos como todo mundo. E Lady Bird erra muito antes de acertar. Ela beira entre momentos de grande estupidez e de grande maturidade. E isso não é relativizado, mas serve para evidenciar que o processo de amadurecimento é decorrente de erros e reflexões. 



Além de tratar de temas difíceis, como retratar a dificuldade financeira da família McPherson, e o quanto isso influencia no futuro dos filhos, o filme trabalha a relação entre Christine e a mãe, Marion (Laurie Metcalf), alternando entre momentos afetuosos e de conflito. Não é que não haja amor entre elas, mas há um evidente bloqueio em demonstrar esse afeto. Mas nem só de temas difíceis trata o filme, vemos também os conflitos adolescentes vividos pela personagem, como se apaixonar por alguém, necessidade de aceitação, querer ser especial e diferente. E é nessa busca, que Lady Bird conhece os seus dois pares românticos no filme, e eles também marcam momentos cruciais no amadurecimento da personagem.



Lady Bird trata de temas do cotidiano, da realidade da escola católica em que a protagonista estuda, do bairro onde mora, do círculo de amizades. Algumas cenas podem parecer um pouco arrastadas, mas não de modo que torne o filme monótono ou cansativo. A história se passa numa cidade pequena da Califórnia, onde as coisas raramente são novidades, logo, trazer cenas simples do cotidiano reforçam esse ambiente que a história precisa construir. Sacramento ao mesmo tempo que sufoca Christine, também é responsável por fazer da personagem o que ela é. 



Sem dúvidas, a parte mais emocionante e tocante do filme, ao menos para mim, é a relação da protagonista com a mãe. Sabemos que relações familiares estão longe de serem perfeitas e, embora haja amor entre os membros, isso não anula o fato de haver conflitos e desentendimentos. Lady Bird precisa lidar com seus próprios problemas, mas tomar consciência de que seus pais também têm seus próprios problemas era algo fora de cogitação. A figura das mães e dos pais tende a ser bastante romantizada/idealizada, no entanto, não vemos isso em Lady Bird, já que logo de cara, percebemos que o pai da protagonista ocupa uma posição de apaziguador na relação entre mãe e filha, por exemplo.



Acredito que Lady Bird tenha boas chances de ganhar alguma das indicações ao Oscar desse ano. Esse filme me tocou profundamente, por não se afogar nos estereótipos e apenas utilizá-los como ponto de partida para construir a sua narrativa. Embora eu não tenha me identificado com  alguns dos conflitos pessoais da personagem, temos uma visão mais real e humana da protagonista. Sua excentricidade, sua audácia, sua imaturidade e persistência constroem uma personagem cativante e próxima da realidade. Se tem algo de biográfico no filme da Greta Gerwig, nós não podemos afirmar, mas temos certeza de que ao assistirmos ao filme, podemos perceber todo o cuidado na construção do roteiro e dos personagens para que eles fossem os mais próximos da realidade. Claro que não podemos deixar de fora a maravilhosa atuação da Saoirse Ronan e da Lauren Metcalf. Certamente, é um dos meus favoritos ao Oscar.

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Comentários

  1. É interessante também como a narrativa constrói a própria Catherine. Uma menina que acredita ser auto suficiente, madura o bastante para enfrentar o mundo, não sendo à toa inclusive a própria metáfora de seu apelido título do longa, ou seja, uma menina que deseja voar com as próprias asas. Este filme é um dos melhores do gênero de drama que estreou o ano passado acho que O Conto é um dos melhores filmes de drama. É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia. Amei o grande elenco do filme, quem fez possível a empatia com os seus personagens em cada uma das situações. Sem dúvida a veria novamente.

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    1. Sim, sim, sim.... a gente vê tantos filmes de amadurecimento com protagonistas masculinos, muitas vezes, filmes nem tão bons e que nem sempre se comunicam com a gente... Lady Bird foi um acerto. Eu assisti duas vezes seguidas e me identifiquei com muitos dos dilemas da protagonista. Gosto muito da atuação da Ronan. Um ótimo filme, com certeza.

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