Depois de séculos, finalmente consegui uma brecha nessa minha vida corrida... E hoje resolvi postar sobre um filme que achei super interessante. Escrevi essa resenha para uma disciplina de Administração na faculdade. A priori, não conseguia imaginar o que eu poderia resenhar focando no filme a questão sobre ambiente organizacional, mas eis que a partir desses elementos juntos, surgiu uma resenha totalmente diferente de todas que eu li sobre esse filme. Apesar de ter sido um texto escrito para obter uma nota para tal disciplina, vale salientar que algumas mudanças no texto original foram feitas. [Pode conter spoiler].
Título Original: The Intern
Direção/ Roteiro: Nancy Meyers
País: EUA
Gênero: Comédia Dramática
Duração: 121 min.
Ano de Lançamento: 2015
Jules Ostin (Anne Hathaway) é a criadora de uma empresa bem sucedida de e-commerce, cujos resultados bateram todas as metas previstas para os cinco primeiros anos. Por causa disso, Jules leva uma rotina bastante atarefada, devido às exigências específicas do seu cargo e ao fato de gostar de manter contato com seus clientes. Para transformar ainda mais a sua rotina, a SobMedida, nome da sua empresa, inicia um programa chamado "Estágio Sênior", cujo objetivo seria contratar idosos para estagiarem na empresa aproveitando a experiência profissional deles e oferecendo em troca a oportunidade de eles voltarem à ativa de novo. Atraído por essa chance única, Benjamin Whittaker (Robert De Niro) resolve enviar seu currículo. No entanto, logo de cara, Ben percebe que a SobMedida não era igual às outras empresas. Ao invés de currículo, a SobMedida pedia que os interessados submetessem vídeos falando sobre as razões de terem escolhido tornarem-se estagiários na terceira idade.
Já na entrevista, os candidatos seniores sentem um choque de realidade. Diferentemente do modelo organizacional tradicional, Ben e os outros se deparam com uma empresa moderna, formada por pessoas jovens, "descoladas" e o tempo todo conectadas às redes sociais. Além de todos serem jovens e de estarem conectados o tempo todo, todos trabalham no mesmo andar, ninguém tem escritório próprio nem mesmo a Jules. As mesas de cada funcionário não têm divisórias e todas sentam-se lado a lado em seus respectivos setores, representando o modelo de organização horizontal. Ainda nesse ambiente, não há supervisores para cobrar metas ou dar ordens, todas as tarefas são comunicadas por e-mail individualmente e, mesmo que não participem do processo da tomada de decisões, todos os funcionários têm participação no processo de organização da empresa, ou seja, a SobMedida surge como um modelo de empresa diferencial dentro do seu ramo.
E esse diferencial só é possível devido ao fato de a SobMedida estar o tempo todo conectada à internet, o que confere à empresa um caráter dinâmico e inovador, aliando empreendedorismo, liderança e tecnologia. Esse modelo organizacional surge em oposição ao modelo de empresa na qual Ben trabalhou por 20 anos. Vale salientar que o fato de o filme trazer um modelo de empresa tão moderno ajuda no desenvolvimento da trama pessoal dos personagens, além de evidenciar os pormenores vividos por eles dentro dessa mesma organização. Ao longo do filme, observamos a existência de dois elementos da cultura organizacional da SobMedida. Existe um ritual e uma lenda/história, que faz da Jules Ostin uma chefe "heroína" e respeitável.
O ritual consistia no anúncio das boas notícias. Quando algo de bom acontecia, alguém era responsável por tocar o sino trazendo a boa nova e, em seguida, todos comemoravam juntos essa conquista. Afinal, para uma empresa que cresceu vertiginosamente em 1 ano e meio, ter 25 mil seguidores no Instagram, por exemplo, é uma grande vitória. Já a lenda da empresa diz respeito a como a empresa foi criada. E a criação dela não foi muito diferente de muitas empresas novas que surgem todos os dias. Durante uma conversa com os amigos na mesa da cozinha da casa de Jules, surgiu a ideia de se criar uma loja virtual que vendesse roupas. Uma ideia na mesa do jantar foi colocada em prática e, em 9 meses, a SobMedida teve uma ascensão repentina. De 25 funcionários no início, para 220 funcionários até o momento em que o filme se passa. E é sobre esse crescimento tão repentino que surgirão os maiores dramas da narrativa. Os financiadores e investidores começam a pressionar Jules para que ela contrate um CEO (Chief Executive Officer) para comandar a empresa, oferecendo assim, uma presidência mais sólida e segura.
Diante dessa exigência, Jules se vê diante de um grande dilema: se ela contratar um CEO, ela poderia ver todo o seu trabalho ser prejudicado. Imagine, então, a situação: você é a Jules e você criou/fundou a sua empresa, além disso, todos os funcionários te admiram e te reconhecem/identificam como líder. Você participa efetivamente dos processos da organização, entende na prática como tudo funciona e acontece. Mas em contrapartida, embora Jules não queira ver a sua empresa perdendo a identidade, ela precisa tomar uma decisão rápida que satisfaça a sua vida profissional e pessoal, afinal, Jules precisa decidir qual atitude é melhor para a empresa e para o seu casamento. É diante desse contexto, que a experiência e a amizade e lealdade de Ben vão ser primordiais para a construção do enredo. Ben e Jules vão se tornando cada vez mais próximos, evidenciando que eles têm uma relação de amigos queridos e não de patroa e empregado.
Embora seja um daqueles filmes de comédia, que muita gente não dá muita atenção, na minha humilde opinião, esse é um daqueles filmes que trazem, de maneira sutil, certos problemas comuns na vida de uma mulher de sucesso e problemas comuns que acometem empresas jovens que alcançam êxito em tão pouco tempo. Jules precisa dividir sua atenção entre o trabalho, o casamento e a maternidade e, por aí, transitam alguns clichês tão clássicos na vida de mulheres empreendedoras. Apesar desses clichês, não acho que foram negativos. Até porque o desfecho da história consegue trazer alguns pequenos diferenciais para a narrativa. Vale salientar que o filme enfatiza bastante a dinâmica da empresa, até certo momento, só conhecemos os personagens dentro do ambiente de trabalho, para só depois sermos transportados para os seus dramas pessoais e, aí sim, podemos ter uma visão de cada personagem como um todo. Vejo esse filme como uma história sobre questões atuais, que trata com humor, leveza e certa ironia, temas como machismo, preconceito e relações interpessoais. Recomendo.
Nota: ⭐⭐⭐⭐
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