Ultimamente, estou cursando uma disciplina chamada Introdução aos Estudos Fílmicos. É óbvio que não vou sair do curso expert no assunto, mas espero que, assim como afirmou o teórico Marcel Martin, eu termine a disciplina sabendo "ler" um filme - risos. E para começar com minha lição de casa, hoje venho falar de um curta metragem brasileiro, primeiro filme que será discutido em sala de aula.
Título Original: Recife Frio
Direção/ Roteiro: Kleber Mendonça Filho
País de Origem: Brasil
Gênero: Ficção Científica
Duração: 24 min
Ano de Lançamento: 2009
O enredo do filme é bem simples, digamos assim. A história nos apresenta a cidade de Recife, outrora uma cidade tropical, como uma cidade fria, chuvosa, triste e tudo isso depois de passar por uma mudança climática atípica. O filme que simula um falso documentário, tenta mostrar a rotina das pessoas diante desse novo clima.
As pessoas não são mais vistas nas ruas, o turismo diminui, as casas de luxo, situadas nos topos dos edifícios, passam a perder valor de mercado por serem demasiadamente frias e pinguins começam a infestar a região. Nada na ciência é capaz de explicar o que está acontecendo com Recife, e enquanto ninguém descobre, a cidade permanece sob um frio inexplicável.
O falso documentário de Kleber Mendonça Filho simula uma reportagem de uma emissora latina sobre o fato de Recife não ser mais uma cidade tropical e turística por causa disso. No filme é possível perceber a ironia de Mendonça acerca das injustiças sociais e de como as pessoas pouco se importam com isso. Segundo Kleber, Recife Frio é uma visão pessoal sua de Recife, a fim de enfatizar o mau planejamento do traçado urbano e um lamento pelo fato de que se um dia Recife se tornasse uma cidade fria e gélida, o caos estaria generalizado na cidade.
Recife Frio foi o curta metragem mais premiado depois de Ilha das Flores, de Jorge Furtado. Kleber Mendonça não deixa escapar em nenhum momento o teor denunciativo de seu filme e muito menos a sua crítica às desigualdades sociais. Um exemplo perceptível disso é a cena da família de classe média alta que passa a achar o quarto da empregada (pequeno, abafado e sem janelas) como o melhor lugar da casa. A sutil ironia e o humor negro, que são marcas registradas de Mendonça, aparecem em diversos momentos: desde a figura do francês dono de uma pousada de veraneio à família de classe alta e a empregada.
Para quem tiver a oportunidade, não deixe de conferir esse curta. Recife Frio traz uma perspectiva totalmente inusitada e reflete irônica e comicamente sobre as consequências decorrentes, se um evento climático como esse, de fato, acontecesse. Um filme muito interessante, recheado de ironias, críticas e humor ácido. Tudo muito bem dosado e bem construído. Recomendo.
Nota: ⭐⭐⭐⭐
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