Minha Vida Sem Mim (2003)

E como eu falei na postagem anterior, estou tentando ver os filmes que tenho para ver sem assistir nenhum trailer ou ler alguma resenha sobre. Até o momento, minha tática está funcionando muito bem - risos. O filme da vez é Minha Vida Sem Mim. Ouvi falar sobre ele algumas pouquíssimas vezes, mas nunca tinha tempo para ver ou simplesmente esquecia. Até que ontem, eu resolvi assistir e sim... posso dizer com toda certeza que existem filmes que nasceram para te emocionar, te cutucar, te incomodar, mas num sentido positivo, claro. [Contém spoiler]


Título Original: My Life Without Me
DireçãoRoteiro: Isabel Coixet
País de Origem: Espanha/ Canadá
Gênero: Drama, Romance
Duração: 106 min
Ano de Lançamento: 2003

Ann (Sarah Polley) é uma jovem dona de casa, casada e com duas filhas pequenas. Ela e seu marido, Don (Scott Speedman), vivem uma vida meio apertada, tendo que fazer bicos para pagar as contas e sustentar a família. Tudo vai bem na vida desse jovem casal, que apesar das dificuldades, se dá super bem e ainda mantém acesa a chama do amor, entretanto, quando uma notícia bombástica cai de paraquedas na vida de Ann, ela decide que é necessário fazer alguma coisa antes de morrer.

Baseado no livro homônimo de Nanci Kincaid, Minha Vida Sem Mim conta a história de Ann, uma mulher de 23 anos que, na flor da idade, descobre que tem um câncer em estado terminal. Diferente da grande maioria dos filmes que tratam de personagens que sofrem com câncer terminal, Minha Vida Sem Mim não tem a pretensão de bancar o melodrama romântico mais triste de todos os tempos. Ann descobre que tem pouco tempo de vida e decide por conta própria resolver a vida de todo mundo.



Como o título do filme mesmo diz, ela decide preparar a sua vida sem ela, ou seja, Ann faz uma lista de coisas que devem ser realizadas antes de morrer e coisas que deverão acontecer depois que ela se for. Ann prepara tudo para que a sua vida seja vivida por outras pessoas. Mas apesar de tudo isso, o filme não tem a pretensão de ser um dramalhão. Mesmo Ann questionando o fato de nunca ter bebido, nunca ter se drogado, nunca ter tragado um cigarro, nunca ter cometido excessos, não há um desdobramento para que sintamos pena do destino da personagem.

O filme é recheado de humor ácido. Ann passa o filme inteiro sendo irônica e sarcástica com a sua doença, sobretudo, quando está conversando com o seu médico, o Dr. Thompson (Julian Richings). Ela faz piadinhas com as pessoas, embora ninguém, exceto o seu médico, saiba que ela está morrendo. É nesses momentos, que a voz em off da personagem aparece no filme, dizendo o que sente, sendo realista, questionando o capitalismo que nos empurra para o consumo, como se fosse para esquecermos que vamos morrer um dia, o que ajuda a reforçar a ideia de que Ann é uma personagem que está completamente ciente de que vai morrer em pouquíssimo tempo.



Mesmo assim, ela quer deixar tudo encaminhado e quer tentar viver um pouco do que nunca experimentou na vida. Parando para refletir, Ann percebe que nunca fez nada demais. Conheceu seu primeiro namorado num show do Nirvana, aos 17 anos teve sua primeira filha com o único homem que beijou na vida, aos 19 teve a segunda filha, não tem uma boa relação com a mãe, desde que o pai foi preso há 10 anos, não tem um bom emprego. Para muitos, ela tem uma vida medíocre de realizações, mas é a única vida que ela teve.

Quando descobre que tem apenas dois meses, talvez três, Ann faz uma lista de coisas para fazer antes de morrer, como beber e fumar o quanto quiser; transar com outro homem para saber como é; fazer um homem se apaixonar por ela; encontrar uma mãe substituta para suas filhas e uma companheira para Don; visitar o pai na cadeia; gravar fitas de feliz aniversário para cada ano até os 18 anos das filhas, para dizer a elas que as ama todos os dias; colocar unhas postiças e mudar o visual do cabelo.



Nessa sua meta, ela conhece Lee (Mark Ruffalo), um homem solitário que se apaixona por ela. Os dois se conhecem numa lanchonete, mas só trocam as primeiras palavras, na lavanderia. Apesar de pouco se conhecerem, os dois vivem momentos muito felizes e intensos. E pode até ser que muitos achem um absurdo Ann dizer que ama o marido e estar apaixonada por Lee, mas as circunstâncias do filme, justificam suas ações. Afinal de contas, o que você faria se soubesse que só tem aproximadamente 90 dias de vida? O que você faria se soubesse que em tão pouco tempo, nunca mais iria ver seus filhos crescerem? O que você faria se soubesse que nada do que faça importa, você tem apenas 90 dias ou menos?

A meu ver, mesmo com esses 90 dias, Ann carrega uma cruz muito pesada, mas vive cada dia como se não tivesse nenhum problema. Ela é a única pessoa, dentro do seu círculo, que sabe que vai morrer. Ann escolhe não dizer a ninguém e apenas as mentiras são as suas companheiras inseparáveis. À medida que a doença vai avançando, Ann sente o quanto é difícil dizer adeus. Minha Vida Sem Mim é um dos filmes mais bonitos que vi nesses últimos dias. Ultimamente, tive muita sorte de ver bons filmes sem ter lido nada sobre eles antes. Minha Vida Sem Mim é melancólico, é nostálgico, é inquietante. Um ótimo filme para assistir e refletir sobre a finitude da vida. Você fez ou faz tudo o que realmente gostaria de fazer? Pense nisso... Super recomendo.

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

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