Stella (2008)

Um dos filmes franceses mais bonitos que já vi. Uma história aparentemente despretensiosa que se passa numa Paris dos anos 70 e que traz à tona a realidade de uma menina de 11 anos tentando sobreviver à ausência dos pais e às cobranças de sua nova rotina escolar.

 
Título Original: Stella
Direção/ Roteiro: Sylvie Verheyde
País de Origem: França
Gênero: Drama
Duração: 103 min
Ano de Lançamento: 2008

Stella (Léora Barbara) é uma menina de 11 anos que vive com os pais num bistrô, frequentado assiduamente por bêbados e fanfarrões. Apesar da clientela boêmia, o bistrô tem um forte aspecto decadente. Além de serem donos do bar, os pais de Stella alugam quartos para essas mesmas pessoas. Ou seja, Stella vive cercada de diversas influências, ditas, negativas. Mas tudo isso começa a pesar quando ela entra na nova escola, onde a grande maioria dos alunos aparenta ser esnobe e rica.

Essa atmosfera faz com que Stella perca o interesse em estudar e mais, faz com que ela se sinta isolada dos demais colegas, afastando-a do convívio com eles. No entanto, as coisas começam a melhorar quando ela conhece Gladys (Mélissa Rodrigues), uma menina ruiva simpática, filha de intelectuais argentinos, que parece ser a única pessoa legal da escola inteira. É através dessa amizade que Stella conhece um novo mundo: a leitura. E essa descoberta é um dos momentos mais libertadores na vida da jovem Stella.


Stella começa a conhecer uma nova realidade, entretanto, as dificuldades ainda continuam as mesmas. Stella não tem o apoio dos pais para estudar ou para se assumir uma leitora em formação e ainda tem que lidar com a relação conflituosa que existe entre eles. Aparetemente, tudo parecia perfeito no casamento de seus pais, Roselyne (Karole Rocher) e Serge (Benjamin Biolay), até que a descoberta da traição de Roselyne, com o melhor amigo do marido, Alain Bernard (Guillaume Depardieu in memoriam) faz com que toda a estrutura familiar, já abalada pelas cobranças e frustrações cotidianas, seja ainda mais frágil e delicada.

Stella é um filme sobre primeiras descobertas e transições emocionais, mas não é pautado numa discussão simplória ou rasa dessas descobertas. A personagem Stella tem 11 anos e percebe que tem que se virar sozinha em tudo. Se virar sozinha para conseguir acompanhar os demais colegas na escola, se virar sozinha para cuidar de si mesma e saber lidar com seus próprios conflitos pessoais. Stella é fascinada por Alain Bernard, e ele é seu primeiro amor platônico. Na escola, conhece Gladys e começa a se apaixonar por Cocteau. Ainda na escola, ela conhece o primeiro amor e nas férias na casa da amiga Geneviève (Laëtitia Guerard), tem seu primeiro contato com drogas lícitas, como cigarro, e com a sexualidade.


O filme dirigido e roteirizado pela francesa Sylvie Verheyde conta a autobiografia da própria Sylvie. Todo o filme se baseia na vida pessoal de Sylvie, no final dos anos 70, quando a mesma foi transferida para uma nova escola. Stella é o retrato de Sylvie aos 11 anos, convivendo num ambiente nocivo para o desenvolvimento sadio de uma criança pré-adolescente com pais negligentes e sem nenhuma outra criança para brincar com ela.

Apesar de viver num bar, Stella não parece se incomodar com isso, mas como Platão bem postulou no Mito da Caverna, à medida que Stella vai adquirindo mais bagagem de leitura, sua consciência de mundo vai se ampliando e naturalmente fica evidente que mais cedo ou mais tarde ela não pertencerá mais àquele tipo de ambiente.


Stella é um filme autobiográfico, porém, muito bem desenvolvido que foge de forma convicente e sem romantismos exagerados do tédio e do pessimismo tão comum em vários filmes franceses. Stella nos mostra com otimismo a possibilidade de se moldar o seu próprio futuro e obter rendenção. Stella vivia num ambiente totalmente nocivo para uma criança de 11 anos, que tinha tudo para dar "errado", mas hoje sabemos, que Sylvie conseguiu transformar seu destino e virar cineasta. Destaque para a atuação maravilhosa das duas atrizes, Léora e Mélissa. O filme é muito bonito. Necessário e importante. Recomendo.

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Comentários