O Céu de Suely (2006)

O céu de Suely se passa no interior do sertão do Ceará, na cidade de Iguatu. Os dois motivos principais que deram vida a esse projeto foram: o desejo do diretor Karim Aïnouz em contar uma história sobre "ir embora" e a história verídica da jovem Ana Paula que se auto rifou para poder viajar para São Paulo.


Título Original: O Céu de Suely
Direção: Karim Aïnouz
Roteiro: Karim Aïnouz/ Mauricio Zacharias/ Felipe Bragança
País de Origem: Brasil/ França/ Alemanha
Gênero: Drama
Duração: 88 min
Ano de Lançamento: 2006

Hermila (Hermila Guedes) nasceu e se criou na cidade de Iguatu, até que decide ganhar a vida em São Paulo com o namorado. No entanto, a vida na cidade grande não era o mar de rosas que esperava. Com 21 anos e um filho pequeno, Hermila se vê obrigada a voltar para Iguatu com a falsa esperança de que o namorado mandará dinheiro para ela voltar com o filho.

A história de Hermila é muito parecida com a de muitas mulheres por aí. Muitas mulheres que saíram do sertão com o marido para tentar conquistar algo novo e acabaram tendo que voltar sozinhas ou com os filhos a tiracolo. Hermila representa essa estatística. E no início, a esperança de poder voltar para São Paulo e ficar ao lado do namorado é o que a faz suportar voltar para casa.



No entanto, à medida que o tempo passa, as notícias vão ficando escassas e Hermila tem que lidar com a iminente possibilidade de ficar em Iguatu novamente. Abandonada e de volta a uma cidade hostil da qual não se sente fazendo parte dela, Hermila decide fazer algo para sair dali. Sem dinheiro e sem muitas perspectivas de arrumar um emprego, Hermila adota o nome de Suely e decide rifar "Uma noite no Paraíso" entre os homens da cidade.

E vale salientar que Hermila faz algo que surpreende a todos. Os homens ficam chocados, mas até gostam da novidade, no entanto, as mulheres sentem repúdio da atitude de Hermila e a família da moça sente imensa vergonha de sua atitude. Independente dos burburinhos da cidade, Hermila toca a rifa adiante com o intuito de juntar dinheiro para comprar uma passagem só de ida para o lugar mais longe daquela cidade.



O céu de Suely não é um filme romântico, mas o desejo de Hermila de sair daquela cidade, de alçar voos maiores, é o carro chefe do filme. A personagem deseja incessantemente sair de Iguatu. Na cena em que ela vai até a rodoviária perguntar qual era o destino mais longe de Iguatu, ela descobre que o destino mais distante é Porto Alegre. Com o novo objetivo na cabeça, Hermila decide que a melhor forma de sair dali é fazendo algo que desse muito dinheiro.

Além de enfrentar a ira e o despeito das mulheres da cidade, Hermila ainda tem que resolver um problema com seu antigo namorado de adolescência, João (João Miguel). Apesar de João representar a estabilidade, a segurança e tudo o que possivelmente Hermila pudesse precisar naquele momento: ter sido abandonada pelo companheiro com um filho pequeno, não é o desejo dela ficar em Iguatu. Para a personagem, Iguatu representa uma prisão, um atraso, um retrocesso na sua vida. Mesmo que ela ame João ou não, como dito anteriormente, não estamos falando de um filme de romance, mas de uma história que nos apresenta uma personagem que almeja mais do que tudo ser livre.



Hermila deseja ir o mais longe possível sempre. De preferência, cada vez mais distante. Mais distante de Iguatu. Das lembranças ruins. Das mentiras. Das falsas esperanças. Enfim, de tudo de negativo que a imagem daquela cidade possa trazer. Por isso a ideia de céu. Além disso, Hermila ainda tem outro dilema: ela tem que decidir o que fazer com o filho pequeno. 

Um ponto interessante do filme é a família de Hermila. Não há presença de nenhuma figura masculina. A avó Zezita (Zezita Matos) é a matriarca da família e também a que reproduz o discurso da castração e da ordem dentro da narrativa. Além da avó, Hermila tem a sua tia Maria (Maria Menezes), e percebe-se mais uma vez não só a ausência paterna, como também a materna. E de como o ciclo tende a se perpetuar.



O céu de Suely é um filme emblemático, porém emocionante. Para alguns pode ser um soco no estômago, pois ele vai de encontro à hipocrisia que beira as relações sociais. Hermila é dona de seu corpo, dona de sua vida, dona de sua vontade e destino. Independente das consequências, ela não desiste do que quer. E isso é o que faz desse filme uma pérola do cinema brasileiro. Recomendo.

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

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