Elles (2011)

Sempre gostei de cinema europeu e mais ainda da atuação de Juliette Binoche. A escolha desse filme não poderia ter sido mais acertada. Uma história de descobertas e quebras de paradigmas e estereótipos. Um filme sensível e avassalador.


Título Original: Elles
Direção: Malgorzata Szumowska
Roteiro: Malgorzata Szumowska/ Tine Byrckel
País de Origem: França/ Polônia/ Alemanha
Gênero: Drama
Duração: 99 min
Ano de Lançamento: 2011

O filme conta a história de Anne (Juliette Binoche). Anne é jornalista de uma revista feminina muito famosa na França. Sua missão no trabalho é redigir um artigo falando sobre jovens estudantes universitárias de Paris que se prostituem para pagar seus estudos. Ao longo da sua pesquisa e com o decorrer do convívio com Alicja (Joanna Kulig) e Charlotte (Anaïs Demoustier), que revelam segredos e aventuras de suas vidas, Anne começa a perceber a vida dessas garotas e as próprias garotas com outros olhos.

Elles é um dos filmes mais recentes da cineasta polonesa Malgorzata Szumowska. Malgorzata é diretora, roteirista e produtora. Estudou na faculdade de cinema mais renomada da Polônia, a mesma que formou cineastas como Andrzej Wadja, Roman Polanski e Krzysztof Kiéslowski. Elles traz no elenco uma das atrizes mais respeitadas do ramo, Juliette Binoche, no papel da jornalista Anne.

Anne consegue encontrar duas jovens universitárias que se dispõem a ajudá-la na criação do artigo. Inicialmente, Alicja mostra-se bastante arredia, mas acaba cedendo à persistência da jornalista. Charlotte é a mais receptiva das duas entrevistadas de Anne. Ela conta que seu codinome é Lola e descreve o perfil dos seus clientes, sobretudo, homens casados e infelizes com suas esposas.



Entretanto, há um ponto em comum entre as duas que incomoda Anne: elas não se mostram arrependidas de serem prostitutas. E isso para a jornalista (que é "muito bem" casada e dona-de-casa) é algo repulsivo e inadmissível. Como alguém gostaria de ser prostituta? E a humilhação? Anne já tem uma ideia formada sobre a prostituição dessas jovens e, inicialmente, deixa subentendido sua revolta, por se colocar no lugar da esposa dos clientes. Entretanto, à medida que ela se envolve com suas entrevistadas, mais ela se sente confusa com relação a sua vida, sobretudo.

A Anne que aparece no filme, além de jornalista, é mãe e dona-de-casa. Ela administra a casa, cuida dos filhos e além de ter que concluir seu artigo para a revista ela tem que preparar um jantar para o chefe do marido. É sob essa ótica que conhecemos Anne. Nada menos absurdo do que ela achar que aquelas garotas jogaram sua vida fora.

Mas a partir das experiências narradas por Charlotte e a partir das experiências que Alicja a faz experimentar, Anne começa a pensar em sua vida, em seu casamento, em sua vida sexual. Através das perguntas que faz às garotas, ela vai tirando suas próprias dúvidas e vai descobrindo e entendendo parte dos seus próprios medos e desejos, os quais ela sempre ignorou por acreditar viver uma vida plena e feliz. O que é a plenitude? O que é a felicidade? Estou satisfeita?



Esses questionamentos existencialistas são bem desenvolvidos ao longo do filme e na minha opinião é o que faz com que o filme alcance sua proposta central: fazer-nos refletir sobre nossos próprios preconceitos. Um dos momentos mais instigantes do filme é quando Anne e o marido estão discutindo antes da chegada dos patrões dele para o jantar e ele a acusa de estar diferente depois que começou a escrever um artigo sobre "putas". Anne questiona isso. Por que puta? O que é uma puta, afinal? E conclui que ele deve entender de "putas". Essa discussão traz à tona uma grande descoberta para Anne que conclui mais para ela do que para o marido: "Não sei se elas são putas". Essa revelação acontece, pois Anne agora sente empatia pelas garotas que entrevistou, agora elas são humanas, são pessoas, são mulheres iguais a ela. E isso também faz com que ela perceba toda a hipocrisia e o machismo do marido diante de seu trabalho e do tema de seu artigo recente.

O interessante do filme ao levantar o tema da prostituição não é dar um ar de condenação a ele. O filme não tem essa pretensão, ele apenas flui, como algo que realmente é mostrado, sem que exponha posições ou julgamentos definitivos. Se alguém quer tomar parte que seja o espectador, ele sim é quem tomará um posicionamento, já que a leveza com que o tema é tratado nos passa uma sensação de sinceridade e de verdade. Recomendo.

Nota: ⭐⭐⭐

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